UMA LONGA TEMPORADA DE SEU BELO SHOW...
De Luiz Carlos Lourenço
Fotos de Daniel Marques
Foi um milagre de apenas uma noite. Como uma queda de meteoro, quem viu, viu. Quem ouviu, ouviu... e babou... Aconteceu no último sábado no Theatro Net Rio, quando a poderosa FAFÁ DE BELÉM voltou à cena carioca para apresentar um espetáculo inteiramente dedicado às noites cariocas. Ela conseguiu um momento mágico, é como se conseguisse ressuscitar noites mágicas do Chico`s Bar e de outras casas noturnas do gênero que no passado boêmio do Rio de Janeiro, reuniam, frequentemente gerações inteiras de cantores, compositores, atores, enfim, astros da cena cultural dos anos 70/ 80.
O Rio era uma festa e, culturalmente, parecia ter um manancial inesgotável de talentos. Foi nessa época que Fafá, ainda muito jovem e recém-chegada por essas bandas, conquistou o país com sua voz, carisma, sensualidade. O espetáculo “Meu Rio de muitos janeiros”, que foi apresentado com casa superlotada e com muitas cadeiras extras, deve voltar no mês de maio, no mesmo Theatro Net Rio, em Copacabana, apresentando um tem roteiro musical baseado em alguns dos seus principais hits e canções de compositores cariocas, como Chico Buarque, Tom Jobim, Roberto Menescal e Dolores Duran, dentre outros. O show é maravilhoso, deveria ser gravado em DVD e merece ser montado em temporada maior na cidade maravilhosa, Fica aí a sugestão.
Acompanhada por um trio de músicos do primeiro time de nossa MPB, a cantora relembrou sucessos como “Coração do Agreste” e “Foi Assim”; e fez um lindo passeio pela obra de Chico Buarque – a quem dedicou um álbum inteirinho: o “Tanto Mar”, gravado em 2006. “Sedução”, “Olha Maria”, “Minha História ” e Gota D`Água”, alguns clássicos do repertório de Chico. As belas canções se juntaram a outros expoentes da música brasileira, como “Preconceito” e “Ninguém me ama”, de Antonio Maria e Fernando Lobo, e “Valsa de uma cidade” (Antonio Maria e Ismael Neto, compositores que amavam o Rio mesmo sendo Maria pernambucano e Ismael paraense).
No espetáculo, Fafá lembrou que morou no Rio durante os anos 70 e viveu seus primeiros grandes momentos anos depois como cantora, na Cidade ainda Maravilhosa. Por isso, revela sempre esse carinho especial pela capital fluminense e a decisão de homenagear o Rio de Janeiro num espetáculo faz esta artista com que o público viaje no tempo e relembre uma época boêmia e que evidenciava a vocação carioca de vitrine cultural do país.
Fafá recordouque quando era criança lá em Belém do Pará, idealizava o que seria a cidade do Rio de Janeiro a partir das pessoas que chegavam na cidade tocando no violão aqueles hits das areias cariocas. Nos anos 1970, com treze anos, ela veio morar na cidade e finalmente pode ver de perto toda a sua bossa. Se encantava com Chico Buarque, Vinícius de Morares, Tom Jobim, Waldick Soriano, Francis Hime e Dolores Duran olhando a cidade pela janela, até que cresceu um pouco e começou frequentar o Chico’s Bar e, sem nem pensar em ser cantora, mas gostando de cantar, interpretava as canções que LuísinhoLessa tocava no violão para ela. Anos se passaram e ela se tornou um dos nomes mais respeitados da música brasileira, a musa das “Diretas Já!”, uma lenda viva, um mito. Até que, só agora, ela resolve, após uma pausa dos palcos, apresentar um espetáculo inteiramente dedicado a essa atmosfera que ela conheceu tão bem. Simples e grandioso assim.
Acompanhada por um trio de músicos do primeiro time da MPB (Cristovão Bastos, Renato Loyola, Ricardo Costa), a cantora mostra com este show que revive as noites boêmias do Rio e prova que os cariocas tem motivo de sobra para se orgulhar dessa musa de sempre, intensa e voluptuosa, de uma animação contagiante e que ainda está um mulherão-arrasa-quarteirão!
Para aqueles que não puderam assistir o show do último sábado, fiquem atentos à próxima volta de Fafá de Belém ao antigo e memorável “Therezão” em maio para se deliciarem com o repertório do espetáculo “Meu Rio de muitos janeiros”, e, mais ainda, com sua irreverência e talento inigualável de uma artista que é patrimônio imaterial da brasilidade.