Foto: Sabrina Paz |
Foto: Marcos Felipe |
Dando vida aos diversos personagens, estão Alan Pellegrino, Daniel Chagas, Deborah Rocha e Gisela de Castro. O destaque da atuação dos atores está na dinâmica de fazer vários personagens, com pouquíssimas mudanças de figurino, contando apenas com variações no penteado, diferentes adereços, explorando os recursos de voz e entonação. “O jogo teatral é totalmente surpreendente por causa disso. Nós ensaiávamos propondo coisas, e a Patrícia Muniz fez um trabalho incrível”, explica Gisela.
Surpreendentes também são o olhar e as novas cores que o diretor joga sobre o poderoso, envolvente e destruidor Nelson Rodrigues. Cruz faz uma montagem inusitada, mostrando o dramaturgo de forma diferente, extraindo humor do texto, sem que se percam os ingredientes rodrigueanos – amor, morte, família, loucura, traição e ciúme. Cruz soube explorar bem o melodrama cômico, inclusive inserindo a plateia no jogo de cena, o que potencializou tensão e desejo, outras duas armas do “anjo pornográfico”.
A montagem abre ao som de "Me deixa em paz", de Monsueto, e fecha com "Eu sei que vou te amar", de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. A encenação busca instaurar uma atmosfera de intimidade com o público. “A montagem insere os espectadores numa configuração de teatro de arena, onde todos são vistos por todos, criando um ambiente de cumplicidade e espelhamento. Os atores transitam e transformam-se entre o público, envolvendo-o num carrossel de pulsações. Nesse teatro da intimidade, o público vê o que pensa o personagem, espreitando pelo buraco da fechadura a vida psíquica como ela é”, explica o diretor, observando que as histórias reunidas em “Pouco amor não é amor” tratam dos temas mais caros ao escritor, numa espécie de “A vida como ela é...” ampliada.
A primeira temporada no Teatro II do Sesc Tijuca foi excelente e chamou a atenção do crítico teatral Francis Fachetti, que considerou a direção de Sidnei Cruz muito bem-sucedida porque “cria uma atmosfera envolvente entre atores e plateia, graças também ao texto ácido e preciso de Nelson Rodrigues, marca do dramaturgo que foi mantida e valorizada nessa montagem”. Para Fachetti, a direção está em perfeita conexão com os recursos do melodrama utilizados pelo autor; recursos estes “muito bem engendrados, em um trabalho de atuações expansivas, polidas e envolventes”. E conclui elogiando o “belo e visível trabalho corporal, impulsivo, sexual” do elenco.
Foto: Sabrina Paz |
Reunindo contos escritos em 1953 e 1954, o livro “Pouco amor não é amor” foi publicado em 2002 pela Companhia das Letras, na Coleção Baú de Nelson Rodrigues. Oscilando entre o trágico e o patético, os contos do livro desenham uma radiografia das relações amorosas cariocas dos anos 1950. Esta incursão pelas relações amorosas do Rio de meados do século XX forma um todo coerente, que retoma a experiência do repórter policial que Nelson havia sido. Os textos também aprofundam um traço de sua obra que já se transformara na marca do estilo e da visão de mundo do autor: a percepção ao mesmo tempo trágica e patética da alma humana.
Para o diretor Sidnei Cruz, “existem várias facetas de Nelson Rodrigues. Por isso, ele continua sendo um autor maldito, polêmico, demolidor de costumes”.
Elenco
Alan Pellegrino
Daniel Chagas
Deborah Rocha
Gisela de Castro
Ficha artística e técnica
Texto: Nelson Rodrigues
Adaptação e direção: Sidnei Cruz
Figurinos e adereços: Patrícia Muniz
Iluminação: Guiga Ensa
Assessoria de voz/canto: Nina Wirtti
Programação visual: Fernando Alax
Produção: Anacris Monteiro e Fernando Alax
Realização: OuroVerde Produções
Serviço
“Pouco amor não é amor”
Com Alan Pellegrino, Daniel Chagas, Deborah Rocha e Gisela de Castro
Classificação indicativa: 12 anos
Duração: 55 minutos
Temporada de 3 a 25 de setembro
Dias: terças e quartas
Horário: 21h
Ingressos: R$ 60 (inteira), R$ 30 (meia)
Teatro Poeira - R. São João Batista, 104 - Botafogo
Lotação: 160 lugares