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segunda-feira, 26 de agosto de 2019

José Maurício Nunes Garcia: Um Gênio Brasileiro

No próximo sábado, dia 31 de agosto, acontece a palestra musicalmente ilustrada ‘José Maurício Nunes Garcia: um Gênio Brasileiro’, dentro da Série Desafios Musicais, no Centro Cultural Justiça Federal, no Centro do Rio. O maestro Ricardo Rocha, da Cia Bachiana Brasileira, apresenta duas obras-primas do primeiro DVD no mundo deste compositor: "Missa Pastoril" (1810) e o grande "Ofício 1816" para Orquestra, Coro e Solistas, gravadas no Mosteiro de São Bento, RJ, pela Cia Bachiana Brasileira, sob a regência de Ricardo Rocha.

Máscara mortuária, feita no dia de sua morte, em
18 de abril de 1830, imagem mais próxima
de sua real fisionomia.
O compositor José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) era padre, mas teve seis filhos. Segundo Edino Krieger, foi o “primeiro grande vulto da música das Américas, com uma produção capaz de ombrear, em volume e qualidade, com os grandes compositores europeus de sua época”. Impressionado pela existência de um talento como o de José Maurício na Colônia, D. João VI, logo ao chegar no Rio de Janeiro em 1808 com a Corte Portuguesa, chamou-o para dirigir a Capela Real, protegendo-o e reconhecendo-o com distinções - como a medalha da Ordem de Christo. Desde então passou a atuar como Mestre Capela na que hoje é a Antiga Catedral da Sé, na Praça XV, ao lado Convento de da Igreja da Ordem Terceira do Carmo. Assim foi até o retorno de D. João VI a Portugal, em 1821, época em que começa o período da ruína física e profissional do compositor, a qual o levará à miséria e à morte em 1830. O conhecido escritor, jornalista, pintor, caricaturista, arquiteto, historiador de Arte e crítico Manuel de Araújo Porto-Alegre, cita um desabafo e gratidão de José Maurício em relação a D. João VI:

 “Oh! É muito ingrata a sorte do homem a quem suffocam e que procura a vida; é por extremo dolorosa a situação do artista que tem consciencia de si mesmo, que conhece o seu valor, o clarão do seu lume, e a quem rodeam de trevas, que elle vence, mas que se não extinguem. Si não tivera el-rei por seu lado, mil vezes estalaria de dor: o que tenho sofrido d’aquella gente, dizia elle, so Deos sabe.” (em 1856 na Revista do IHGB, Rio de Janeiro, tomo XIX, p. 354-69).

A Missa Pastoril foi escrita para Noite de Natal de 1810, como uma singela e encantadora evocação de antigos presépios de igrejas barrocas, refletindo a simplicidade e a ternura inerentes ao espírito natalino. A ingenuidade da invenção melódica, de feição pastoral, envolve diversos momentos da missa com a mesma ideia cuidadosamente articulada em sua forma tradicional, o que lhe confere um caráter repousante, reforçado pelo movimento rítmico. A obra guarda um enorme frescor e beleza, livre de toda a influência rossiniana que marcaria a produção musical carioca a partir dos anos 20.

O ‘Ofício de Defuntos’ (nome original), ou Ofício 1816, teve por ocasião a morte da rainha D. Maria I, mãe de D. João VI, em 20 de março de 1816. Mas a inspiração que levou o compositor às lágrimas na criação dessa obra nasceu do fato de sua mãe, Victoria Maria da Cruz, pessoa que maior influência exerceu sobre ele ao longo da vida, ter falecido no mesmo dia da Rainha-Mãe. Apresentada em 1816 sob a direção do próprio compositor, esta missa de mortos, até onde sabemos, teve sua primeira reapresentação completa no Rio de Janeiro, com coro, orquestra e solistas, em 2003, igualmente realizada pela Cia. Bachiana Brasileira, que em 2010  a gravou em DVD junto com a Missa Pastoril. A gravação destas duas obras-primas constituiu um marco no registro deste que, sem dúvida, foi o maior compositor da história das três Américas no século XVIII, significando, para a história da nossa música, o mesmo que Carlos Gomes e Villa-Lobos, nos séculos XIX e XX respectivamente.

Com a execução em concerto, mas também a apresentação em filme desta primeira gravação em DVD de obras de José Maurício, a Cia. Bachiana Brasileira dá mais uma contribuição para o resgate e, principalmente, a difusão deste grande brasileiro que, até hoje, não desfruta do merecido reconhecimento na história de nosso país.

Serviço
"José Maurício Nunes Garcia: um Gênio Brasileiro"
Palestra musical ilustrada do maestro Ricardo Rocha, da Cia Bachiana Brasileira;
Série Desafios Musicais, direção de Saulo Chermont;
Local: Cinema do CCJF - Centro Cultural Justiça Federal RJ Av. Rio Branco, 241-metrô Cinelândia 
Data: sábado, 31 de agosto
Horário: 15h 
Ingressos: R$ 40,00 ( inteira) e R$20,00 (meia-entrada)