Máscara mortuária, feita no dia de sua morte, em 18 de abril de 1830, imagem mais próxima de sua real fisionomia. |
“Oh! É muito ingrata a sorte do homem a quem suffocam e que procura a vida; é por extremo dolorosa a situação do artista que tem consciencia de si mesmo, que conhece o seu valor, o clarão do seu lume, e a quem rodeam de trevas, que elle vence, mas que se não extinguem. Si não tivera el-rei por seu lado, mil vezes estalaria de dor: o que tenho sofrido d’aquella gente, dizia elle, so Deos sabe.” (em 1856 na Revista do IHGB, Rio de Janeiro, tomo XIX, p. 354-69).
A Missa Pastoril foi escrita para Noite de Natal de 1810, como uma singela e encantadora evocação de antigos presépios de igrejas barrocas, refletindo a simplicidade e a ternura inerentes ao espírito natalino. A ingenuidade da invenção melódica, de feição pastoral, envolve diversos momentos da missa com a mesma ideia cuidadosamente articulada em sua forma tradicional, o que lhe confere um caráter repousante, reforçado pelo movimento rítmico. A obra guarda um enorme frescor e beleza, livre de toda a influência rossiniana que marcaria a produção musical carioca a partir dos anos 20.
O ‘Ofício de Defuntos’ (nome original), ou Ofício 1816, teve por ocasião a morte da rainha D. Maria I, mãe de D. João VI, em 20 de março de 1816. Mas a inspiração que levou o compositor às lágrimas na criação dessa obra nasceu do fato de sua mãe, Victoria Maria da Cruz, pessoa que maior influência exerceu sobre ele ao longo da vida, ter falecido no mesmo dia da Rainha-Mãe. Apresentada em 1816 sob a direção do próprio compositor, esta missa de mortos, até onde sabemos, teve sua primeira reapresentação completa no Rio de Janeiro, com coro, orquestra e solistas, em 2003, igualmente realizada pela Cia. Bachiana Brasileira, que em 2010 a gravou em DVD junto com a Missa Pastoril. A gravação destas duas obras-primas constituiu um marco no registro deste que, sem dúvida, foi o maior compositor da história das três Américas no século XVIII, significando, para a história da nossa música, o mesmo que Carlos Gomes e Villa-Lobos, nos séculos XIX e XX respectivamente.
Com a execução em concerto, mas também a apresentação em filme desta primeira gravação em DVD de obras de José Maurício, a Cia. Bachiana Brasileira dá mais uma contribuição para o resgate e, principalmente, a difusão deste grande brasileiro que, até hoje, não desfruta do merecido reconhecimento na história de nosso país.
Serviço
"José Maurício Nunes Garcia: um Gênio Brasileiro"
Palestra musical ilustrada do maestro Ricardo Rocha, da Cia Bachiana Brasileira;
Série Desafios Musicais, direção de Saulo Chermont;
Local: Cinema do CCJF - Centro Cultural Justiça Federal RJ Av. Rio Branco, 241-metrô Cinelândia
Data: sábado, 31 de agosto
Horário: 15h
Ingressos: R$ 40,00 ( inteira) e R$20,00 (meia-entrada)