Ele já tocou com Leo Jaime, Lobão, Kid Abelha, Cazuza, fez parte de bandas como Front, Telefone Gol e os Britos. Guitarrista tido como orgulho dos roqueiros de plantão. Nani Dias é simples, solícito e amigo. Nesta entrevista ele fala sobre a carreira e outras curiosidades vividas.
“Eu tinha 14 anos quando assisti o Vímana - Ritchie, Lulu Santos, Luiz Paulo Simas, Lobão, e Fernando Gama, ao vivo nos anos 1970, no Teatro Tereza Rachel, era bom demais!”, lembrou.
Descobrindo a música
- Nasci com música em casa, e era doido por música. Já manifestava toda coisa com Beatles. Minha avó pianista, minha tia foi assistente de Villa-Lobos; em casa sempre teve vitrola, nasci com acesso à música. Sou filho temporão. Meus irmãos têm mais de 10 anos de diferença, eles já escutavam Elvis, e eu nasci escutando Beatles, era a trilha sonora da família. Era aficionado por isso, quando me davam presente eu pedia disco.
- Mas não foi possível tocar bateria, incomodava todos da casa.
Ringo era meu Beatle favorito. Ainda pequeno, era meu lance naquele momento. Em casa tinha violão e piano. Estudar naquele momento não deu certo, meu negócio era música. Foi nesse momento que conheci Kadu Menezes, baterista – tínhamos 18 e 15 anos. Kadu já dava aula de bateria, e outros amigos apareceram e já ganhavam dinheiro com a música. Tive alguns professores como Nicanor Teixeira (também compositor) que me deu aula de violão um ano. No colégio tive banda de choro e na guitarra fui autodidata, trabalhei muito de ouvido. Nisso veio a literatura musical; lia muito, comprava muita revista e ficava informado sobre tudo, era um aficionado, isso nos anos 1970. Cheguei estudar engenharia, economia e deu em nada.
Front
– Foi nos anos 1980, era junção de duas andas – Frutos da Mente que virou Dial. Tinham dois bateristas: Kadu Menezes e João (Rapazes de Vida fácil - desistiu da carreira), eu na guitarra – o Kadu já tinha o Front. Tinha uma formação mais profissional. Eu, Beto, Kadu Menezes, Bruno Araújo no baixo, Ricardo Palmeira na guitarra, o Yuri, teclados, logo saiu pra tocar com Leo Jaime. Gravamos a música “Dó Dói” para entrar no LP “Os Intocáveis”, segundo pau de sebo da gravadora Som Livre, que tinha entre outros artistas nomes como Capital Inicial. Fizemos TV, bailes e muito playback. O Bruno saiu, foi estudar, entrou Rodrigo Santos (ex-Barão Vermelho) – ficamos os quatro, eu, Ricardo, Kadu e Rodrigo que assumiu o baixo e vocal – gravamos o compacto “Dengosa”, lado 1 e “Olhos de Gata”, lado 2.
Leo Jaime
– Ele produziu nosso compacto, isso nos aproximou ainda mais, a banda dele saiu e ele nos recrutou. Fizemos a turnê do “Rock Estrela”, aí, sentimos a diferença em tocar grandes eventos. Tipo Beatles, histeria total. Foram três anos com ele. Não cheguei a gravar um disco inteiro, gravei algumas faixas. Eram três guitarras e na segunda turnê o Ricardo saiu e ficou eu o Leo na outra guitarra. Durantes três anos (até 1988) com Leo Jaime foram muitos livros, trocamos muitas informações, foi muito produtivo.
Lobão
– Com Leo Jaime fizemos o último show “Alternativa Nativa”, no Maracanãzinho; éramos nós e Kid Abelha, no dia anterior os Engenheiros do Havaí, no outro dia era Lobão e outro que não lembro, foi quando Lobão viu o Rodrigo tocando. Fui tocar com Cazuza – gravei três programas ao vivo “Globo de Ouro” no lugar do Ricardo Palmeira, tudo acontecendo ao mesmo tempo – enquanto isso o Lobão estava gravando “Cuidado”, de 1988 - com Rodrigo Santos, que já tinha visto tocando anteriormente – Sergio Serra e o Rodrigo Santos, eram os três, Lobão estava se reinventando, trabalhando com Bernardo Vilhena (poeta e compositor) – estava introduzindo o Ivo Meireles, percussionista, sambista da Mangueira.
Em 1988, o Lobão recrutou Kadu Menezes para bateria, depois de testes, João (Lobão) era muito exigente, principalmente com bateria, Kadu foi certeiro, era muito estudioso de música. Nesse meio tempo recebi uma ligação do Rodrigo Santos me chamando – vem para casa do Lobão agora! Ele quebrou o braço. Eu estava meio desistindo da coisa e estava sem guitarra. Isso foi numa quinta-feira da semana anterior ao show que seria na quinta-feira seguinte - fiz bases na guitarra do Lobão, o som já estava todo passado. Quando Lobão retornou do hospital e escutou a gente, achou que era uma fita gravada com ele, era eu tocando “Cuidado”, ficou surpreso e adorou, no domingo fui para casa dele, acertei os detalhes e na quinta-feira estreamos no Canecão, RJ. Foram três anos, gravei o disco “Sob o Sol do Parador”, de 1989, foi sensacional – gravado em Los Angeles, ele foi antes ficando três meses, a banda foi depois, ficamos um mês por lá. Lobão e (Os Presidentes) era eleições diretas, sacada do Lobão o nome da banda.
Fizemos a turnê depois gravamos o “Ao Vivo no Hollywood Rock”, acho um disco muito bom. Tem a obra do Lobão tocada de um modo muito visceral. Meu último show com Lobão foi no “Rock In Rio”, em 1991, que ficou marcado pelas vaias e copos arremessados da plateia que era de “metaleiros”.
-Telefone Gol foi uma banda que tinha na primeira formação: Nani Dias guitarra, tinha o Dé Palmeira (havia saído do Barão Vermelho) no Baixo, Kadu Menezes na bateria e Sergio Serra na guitarra – chegamos perto de fazer um disco na Warner. Naquela época, devido problemas internos da banda e o famoso plano Collor, fez com que todos os projetos fossem cancelados, deu em nada, mesmo tendo pessoas importantes conosco. Têm um monte de músicas gravadas e nunca foi lançado, o grupo nunca foi a mesma coisa sem o Dé.
Os Britos
- Foi formado em 1994. Fomos convidados pelo Circo-Voador para lançamento do filme “BackBeat”, que em português saiu como “Os Cinco Rapazes de Liverpool”. Montamos a banda, gostamos do resultado e foram muitas canjas depois e vários momentos felizes também. Eis que conhecemos Pedro Paulo Carneiro, ele, com o apoio do Visit Britain nos levaram a Londres e Liverpool em 2005, onde gravamos o nosso DVD/CD - “Os Britos Cantam Beatles”. Em 2006 repetimos a dose. Em 2007 recebemos um prêmio do príncipe Andrew, da Inglaterra, pela divulgação do Reino Unido através da música. No CD tem duas músicas inéditas, era muito fácil para os quatro comporem juntos.
Kid Abelha
- Gravei violões no “Acústico o Kid Abelha” que saiu em CD/DVD - George Israel foi outra pessoa importante que entrou em minha vida. O Kadu já estava trabalhando com o Kid. Lá atrás chegamos abrir para o Kid Abelha, tinha essa relação com eles. O Kadu além de baterista estava fazendo produções e trabalhando junto com George Israel no disco tributo aos Mutantes “Triângulo Sem Bermudas” e me convidaram. No disco teve Barão Vermelho, Planet Hemp, entre outros - eu gravei guitarras na faixa da Daúde com Toni Garrido “Desculpe Baby” e a faixa do Ney Matogrosso “El Justiceiro”. Fiquei muito amigo do George Israel.
Teve uma turnê da Daúde para Europa e o guitarrista Rodrigo Campelo não pode ir, acabei indo no lugar dele. Eram 14 shows na Europa incluindo o 30º Festival de Montreux, Berlin, Amsterdam, isso foi radical pra mim, mudou tudo novo pra mim. Tocar na Europa é muito bom deu motivação para tocar com mais vontade e fazer mais. Foi aí que voltei a tocar com Leo Jaime.
Projetos Beatles (Discobertas)
Obla Di Obla Da – 2008
- Foi com Os Britos, recebemos o convite do Marcelo Fróes que nos honrou muito.
The Ballad Of John and Yoko – 2009
- Veio seguir e foi com o Front. Gostei muito e ficou marcado.
Beatles ou Rolling Stones?
- Não dá pra falar, é como um “combo” com o melhores.