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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Jornalista é bloqueado por trinta dias por lembrar conhecida figura artística

Não consigo entender o Facebook e algumas atitudes de "falso moralismo" das pessoas. Há cinco dias, estou impedido de, no exercício de minhas funções como jornalista, usar o Facebook, postar fotos e mensagens nem receber mensagens pelo messenger porque publiquei inocentes fotos de uma conhecida figura artística do mundo gay carioca, LAURA DE VISON, de saudosa memória de quem conhece um pouco a história do show business carioca ou de quem curte shows ou bailes de carnaval.

Na postagem, que fazia parte da minha conhecida série DOS MEUS ARQUIVOS IMPLACÁVEIS, exibi duas fotos de LAURA, uma sendo entrevistada na entrada do Scala Leblon pelo irreverente apresentador OTAVIO MESQUITA e a segunda foto ao lado de um alegre folião do mencionado baile.
 
Nas imagens, como podem ver, LAURA DE VISON aparece como sempre se apresentou em público, para gente de todas as idades, em bailes de carnaval, nos sadios desfiles da banda de Ipanema e em outros pontos de diversão do Rio. Seus peitões, inflados por excesso de gordura, eram exibidos até para crianças nas ruas, durante o carnaval... mas as fotos foram consideradas de "alto teor pornográfico", pela exibição dos mamilos inflados do artista. Enviei a devida explicação aos dirigentes do Facebook, exclui a publicação, mas, mesmo assim, nem sequer me responderam.

Para os desavisados "censores", minha obrigação como jornalista é a de informar que LAURA DE VISON, que morreu há cinco anos e deixou a  alegre noite carioca de luto, além de ser considerado um ícone do transformismo brasileiro, era um respeitado professor da rede pública e dava suas aulas sempre vestido de terno e cobrindo, com faixas, os "peitos enormes" que, devido à seu excesso de peso, eram o carro chefe nos shows.

Laura de Vison, devido à sua gordura, morreu de insuficiência respiratória, por consequência de complicações decorrentes de uma cirurgia para tratamento de problemas de hérnia.

O preconceito sempre fez parte da vida de Norberto Chucri David, carioca do Engenho de Dentro, filho de pais libaneses que comercializavam tecidos com a ajuda dos filhos Odete, Ivete, Humberto, Hoover e Norberto, que estudou na Faculdade Nacional de Filosofia com licenciatura em filosofia, psicologia e história. Durante muitos anos, Laura lecionava comportadíssima: cabelo penteado para trás, terno, gravata e uma cinta para diminuir o peito grande . Retrato de um profissional sério que, mesmo assim, enfrentou discriminações.

Tudo bem, Norberto nunca foi um professor convencional - um dia se vestiu de Cleópatra para explicar a história egípcia - mas amava a profissão. Quando os seios começaram a brotar, morto de vergonha, o menino disfarçava as formas protuberantes com blusas largas. Apesar disso, as crianças notavam:

- Elas faziam chacota com meus peitinhos e minhas pernas, que eram bem femininas, dizia, nas entrevistas.

Laura nunca mais subirá a escadaria que a levava ao estrelato no lendário bar Boêmio, no Centro do Rio. Ali, foi aplaudida por turistas, antropólogos, sociólogos, atores, cantores e personalidades internacionais como o estilista Jean Paul Gaultier. Quando soube que Laura lecionava história e moral e cívica na rede pública, Gaultier ficou pasmo: "Interessante essa faceta dupla, isso não seria permitido pela moral francesa"

Seus shows antológicos eram uma espécie de videoclipe. Quando interpretava "Súplica cearense", jogava um balde de água nos espectadores. Em "This is my life", se transformava numa enfermeira e comia fígado. Volta e meia rolava, absolutamente por uma escada, assistida por até 600 pessoas:

Em "O fantasma da ópera", comia o cérebro do fantasma: dois miolos crus, quase 300 gramas:

- Eu fazia essas coisas incorporando Laura. Em meu estado normal jamais seria capaz, contava Norberto, quando estava fora do personagen.

Nos shows, que duravam uma hora e meia, ela alternava sua coleção de quase cem vestidos - que iam do tradicional a trajes mais sexy como baby-dolls e espartilhos - 40 perucas coloridas, 50 sapatos e botas, chapéus e muita pluma, guardados no confortável dúplex da estrela, bem no coração da Glória.

Comparada à americana Divine, Laura foi uma extaordinária artista do mundo gay e uma irreverente artista de comédia.

O último trabalho de Laura foi a peça teatral "Dei a Elza em você", em 2006. No espetáculo, o tema mostrava  três drag queens decadentes que decidiram montar um show com rapazes musculosos.


Clique nas fotos e confira tudo sem censura, pudor ou falso moralismo: