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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

BUSTO EM HOMENAGEM A STUART ANGEL
JONES É INSTALADO NA ZONA SUL DO RIO




De Luiz Carlos Lourenço
Fotos de Daniel Marques


Com a presença de dezenas de jornalistas, personalidades da vida brasileira, socialites, políticos e artistas foi realizada ontem à tarde a inauguração do busto de Stuart Edgar Angel Jones. A obra foi confeccionada  pelo escultor Edgar Duvivier e instalada num dos pontos de maior visibilidade da Zona Sul do Rio de Janeiro, junto ao ponto de retorno da Ciclovia Stuart Angel, na confluência da Avenida Wenceslau Brás com Pasteur, diante do muro do Iate Club e do prédio da UFRJ, onde ele cursou Economia.
 Segundo a irmã de Stuart, a jornalista, escritora e colunista Hildegard Angel, a inauguração desta obra vem representar um reconhecimento e uma homenagem da Prefeitura do Rio de Janeiro, prefeito Eduardo Paes, e da secretaria de Conservação, através do secretário Marcos Belchior Correa Neto.



 A entrega do monumento à cidade contou com as presenças de muitos notáveis, incluindo o presidente da Fundação Cesgranrio, Carlos Alberto Serpa e sua mulher Beth, do musicólogo, diretor e pesquisador, Ricardo Cravo Albin, da cantora Eliana Pittman, do artista plástico e musicólogo Alvaro Carrilho, das socialites Isis Penido, Gisela Amaral Lucy Sá Peixoto e Simone Fernandes, do músico e poeta Jorge Salomão, do ator e diretor Jorge Fonta, do cineasta Luiz Carlos Barreto e sua mulher Lucy.
 Estiveram também presentes à solenidade o Desembargador Paulo Espírito Santo e juíza Leise Espírito Santo. Advogados Luis Roberto Nascimento Silva, Roberto Halbouti, João Bocayuva Cunha. Embaixador Marcio de Oliveira Dias, cônsul-geral do Canadá, Sanjeev Chowdhury. Victorino Chermont de Miranda, Leonardo Franco e Maria Grifith,  Maria Luiza Nobre, Reinaldo Cotia Braga, Rosa Cordeiro Guerra, Ignez Costa e Silva, Maria Eugênia Stein, Chica Dutra, Maria Célia e Walter Moraes, Cláudio Aboim, Amaro Leandro, Celina de Farias, Lucia Acar, Lucilia Lopes, Yone Kegler e sua irmã,  Iza Chloris Alvarenga, Simone Rodrigues, Waldir Leite, Samuel Aarão Reis, Ana Maria Müller, Glidci e Pedro Lima, Pedro Celestino, Dougie Face, Zezé Barros, Dulce Pandolfi e Agostinho Guerreiro, Manoel Lapa, Eduardo Pane, Marcelo Borgongino, Ivette Najn, Wilma Amaral, José Ricardo Tostes. Luiza Bogossian, Paulo César Correa Lopes, representante de João Portinari, Luiz Carlos Brant, Gilsinho Araujo, Elvert Brandão,\secretário de Conservação, Marcus Belchior, sub-secretaria de Relacionamento com o Cidadão, Ana Luíza Toledo Piza, arquiteta Vera Dias, diretora do departamento de Monumentos e Chafarizes,  Fernando Uchôa, o economista Caíque Tibirica, da equipe da deputada Jandira Feghali, Anselmo de Andrade, Marcia Pereira, Oswaldo José Monteiro, Sarah, Iara,  Paulo Barragat, Fundação Gulbenkian, Raphael Gattás, assessor especial do vice-governador Dornelles, Murillo Veiga, do Consulado do Canadá, síndico Pedro Boff, Claudia Salgado, Luis Carlos Lourenço, Diana Vianna, Ana Maria Leite Barbosa.

 Dezenas de amigos que compareceram à inauguração levaram flores e mensagens que foram colocadas junto ao pedestal da estátua e um dos pontos altos da solenidade foi quando todos os presentes cantaram o Hino Oficial do Rio de Janeiro, "Cidade Maravilhosa", de autoria de André Filho,  tendo à frente a cantora Eliana Pittman.
 Em emocionado pronunciamento aos presentes, Hildegard Andel lembrou que seu irmão Stuart foi um integrante da luta armada contra a Ditadura Militar no Brasil e militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), e, por seus ideais foi preso, torturado, morto e dado como desaparecido político brasileiro.



 Stuart era filho do americano Norman Jones e de Zuleika Angel Jones, mais conhecida como Zuzu Angel, figurinista e estilista conhecida internacionalmente.Bicampeão carioca de remo pelo Clube de Regatas Flamengo na adolescência, ele foi estudante de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Possuía dupla nacionalidade, brasileira e americana. 
 Contemporâneos de Stuart recordaram, na ocasião, que na virada das décadas de 60/70, passou a militar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro, grupo de extrema-esquerda que fazia a luta armada contra o Regime Militar, onde usava os codinomes Paulo e Henrique. Preso, torturado e morto por membros do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA) em 14 de junho de 1971, aos 25 anos de idade. Foi casado com a também militante e guerrilheira Sônia Maria de Moraes Angel Jones, presa, torturada e morta dois anos depois e também dada como desaparecida.



 Preso próximo a seu aparelho, no bairro do Grajaú, perto da Avenida 28 de Setembro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, Stuart foi levado pelos agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (CISA) à Base Aérea do Galeão para interrogatório. Dele, os militares queriam a informação da localização do ex-capitão Carlos Lamarca, chefe do Movimento Revolucionário 8 de Outubro e então o grande procurado pelo regime. Negando-se a falar, Stuart Angel Jones foi então barbaramente torturado no pátio da base, vindo a morrer em consequência dos maus tratos.



A versão mais conhecida e aceita de sua tortura e morte foi dada pelo ex-guerrilheiro Alex Polari, também preso na base, e que assistiu da janela de sua cela as torturas feitas contra Stuart, presenciando inclusive a cena em que ele foi arrastado por um jipe militar, com o corpo completamente esfolado e com a boca no cano de descarga do veículo, pelo pátio interno do quartel, o que causou sua morte por asfixia e envenenamento por gás carbônico. Alex Polari escreveu uma carta a Zuzu Angel contando-lhe o ocorrido com o filho. De posse dela, a estilista denunciou o assassinato de Stuart - que tinha cidadania brasileira e americana - ao senador Edward Kennedy, que levou o caso ao Congresso dos Estados Unidos.



O livro Desaparecidos Políticos, de Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, aponta duas versões para o desaparecimento do corpo do guerrilheiro:
"A primeira é de que teria sido transportado por um helicóptero da Marinha para uma área militar localizada na Restinga de Marambaia, na Barra de Guaratiba, próximo à (então) zona rural do Rio de Janeiro, e jogado em alto-mar pelo mesmo helicóptero. Mas, de acordo com outras informações, o corpo de Stuart teria sido enterrado como indigente, com o nome trocado, num cemitério de um subúrbio carioca, provavelmente Inhaúma." Os responsáveis pela sua morte, segundo Reinaldo Cabral e Ronaldo Lapa, foram os brigadeiros João Paulo Burnier e Carlos Afonso Dellamora, o primeiro, chefe da Zona Aérea e, o segundo, comandante do CISA; o tenente-coronel Abílio Alcântara, o tenente-coronel Muniz, o capitão Lúcio Barroso e o major Pena - todos do mesmo organismo; o capitão Alfredo Poeck – do Centro de Informações da Marinha (CENIMAR); Mário Borges e Jair Gonçalves da Mota - agentes do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS)".



 Por muitos anos, a mãe de Stuart, Zuzu Angel, peregrinou pelo poder militar tentando conseguir explicações e informações sobre o corpo do filho, oficialmente dado como desaparecido. Sua campanha chegou ao mundo da moda, na qual tinha destaque, com desfiles de coleções feitas com roupas estampadas com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e motivos bélicos. O anjo, ferido e amordaçado em suas estampas, tornou-se também o símbolo do filho. Zuzu Angel chegou a realizar em Nova York um desfile-protesto, no consulado do Brasil na cidade.



Usando de sua relativa notoriedade internacional, ela envolveu celebridades de Hollywood que eram suas clientes, como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak, em sua causa, e durante a visita de Henry Kissinger, então secretário de estado norte-americano, ao Brasil, chegou a furar a segurança para entregar-lhe um dossiê com os fatos sobre a morte do filho, também portador da cidadania americana.

Zuzu Angel morreu em 1976, num acidente de automóvel nunca devidamente explicado no bairro de São Conrado, Rio de Janeiro, sem jamais conseguir descobrir o paradeiro do corpo de Stuart Angel.




Em 2006, a vida de Stuart Angel Jones e de sua mãe foram levadas ao cinema, com o filme Zuzu Angel, dirigido por Sérgio Rezende, com Daniel de Oliveira e Patrícia Pillar no papel do militante-guerrilheiro e da estilista.

O escultor Edgar Duvivier, depois de instalar o busto de Stuart Angel no local, plantou ele próprio, por sua iniciativa, um contorno de azaleias ao redor de sua obra. Stuart está de torso nu e sorridente, com seu corpo de atleta remador, que deu duas medalhas de campeão ao Flamengo, e seu ar de idealista confiante no futuro de sua geração e de seu país.