COM BATE PAPO NA TRAVESSA DO LEBLON, DIA 28/04
Com a presença de vários notáveis de nossa MPB, será realizada no próximo dia 28/04, na livraria da Travessa do Leblon, a nova edição da mais completa biografia de Dorival Caymmi (1914-2008), um dos nomes mais importantes da música brasileira, que encantou o país com sua voz grave e doce, e suas canções lapidares, síntese do imaginário do povo.
Fruto de dez anos de minuciosa pesquisa, com mais de trezentas imagens, a obra vem agora em formato mais acessível, além de revista e atualizada com um novo posfácio da autora, Stella Caymmi, neta do compositor. O lançamento integra as comemorações do centenário de Caymmi, a serem realizadas neste ano.
Figura seminal da cultura brasileira, Dorival Caymmi (1914-2008) integrou as principais fases da história de nossa música: a Era de Ouro do rádio, nos anos 1930 e 40; o samba-canção e o advento da TV, na década de 50; a bossa nova, a partir de 1958; e a moderna MPB. Como explicar a obra desse baiano, que encantou o país com suas canções lapidares, síntese de todo um imaginário do povo? Fruto de dez anos de minuciosa pesquisa, com mais de trezentas imagens, esta biografia, escrita pela neta de Dorival, Stella Caymmi — que teve acesso privilegiado ao universo do artista —, acompanha passo a passo a sua trajetória, desde as raízes da família na Itália, a infância em Salvador e a mudança do jovem compositor para o Rio de Janeiro, em abril de 1938. Nesta cidade, Caymmi logo atingiu a fama, quando seu samba “O Que É Que a Baiana Tem?” foi incluído no filme Banana da Terra, estrelado por Carmen Miranda. Nascia ali um dos maiores nomes da música brasileira, que soube aliar as qualidades de compositor às de intérprete, com sua voz grave e doce acompanhada ao violão. No centenário do baiano, vale lembrar os versos do admirador Chico Buarque: “Contra fel, moléstia, crime/ use Dorival Caymmi”.
Sobre a autora
Stella Caymmi nasceu em Caracas, Venezuela, e vive no Rio de Janeiro desde os 3 anos de idade. Formada em Jornalismo pela PUC-Rio, com mestrado e doutorado em Literatura Brasileira pela mesma instituição, vem trabalhando na área cultural como assessora de imprensa, pesquisadora, redatora e editora, tendo artigos publicados em diversas revistas nacionais. Escreveu perfis biográficos para songbooks de vários músicos brasileiros e participou da produção de shows da família Caymmi no Brasil e no exterior. É autora dos livros Dorival Caymmi: o mar e o tempo (Editora 34, 2001, indicado ao Prêmio Jabuti de Melhor Biografia), Caymmi e a bossa nova (Ibis Libris, 2008) e O que é que a baiana tem? Dorival Caymmi na era do rádio (Civilização Brasileira, 2013).
Texto da orelha do livro por TÁRIK DE SOUZA
Esta é uma biografia escrita pela neta do biografado. Que biografado e que neta! Dorival Caymmi, um dos principais artífices do que se entende por música popular brasileira, radiografado em vida e obra por Stella Caymmi, filha da magnífica cantora Nana Caymmi. Stella trata o oceânico avô com a admiração que ele merece por seu cancioneiro de não tão poucos títulos — mais de uma centena, a que ela acrescenta várias inéditas, pescadas no baú familiar —, boa parte na categoria de obras-primas atemporais. Mas não sonega as aventuras do boêmio que viveu intensamente a noite carioca. Descendente de um italiano do norte, contratado para trabalhar na construção do Elevador Lacerda, Dorival herdou a paixão musical do pai — Durval Caymmi tocava piano, bandolim e violão e animava saraus literários além de “dançar valsa numa única tábua do salão”.
Dorival aprendeu violão sozinho no instrumento do pai, que tentou corrigir sua forma de tocar fora dos padrões convencionais. Na aparente deficiência residia a força dos acordes muito além da estática beleza da perfeição. Nascia o dissonante precursor da bossa nova, cujas composições seriam adotadas pelas gerações de baianos seguintes, de João Gilberto a Caetano, Gal, Bethânia e Gil. Depois de um flerte com as rádios de sua terra, Caymmi tomou um Ita na Bahia e veio no Rio morar, em 1938. Em menos de um ano, gravado por (e com) Carmen Miranda, em “O Que É Que a Baiana Tem?”, projetou-se nacionalmente. Ninguém cantou sua terra com o impacto de postais sócio-comportamentais como “Acontece Que Eu Sou Baiano”, “Saudade da Bahia” e “Samba da Minha Terra”, que marcariam nossa música para sempre.
Stella com o avô, numa foto de Fernando Rabelo |
Mas essa é apenas uma das faces do baiano sestroso cultor do ócio criador que levou nove anos para concluir a saga de “João Valentão”. Por conta disso, ganhou a irremediável e inadequada fama de preguiçoso, da qual tirou partido malandramente deitado na rede nos anúncios de TV. A exemplo da história do pescador Carapeba, este ás (também) dos pincéis teceu uma série de canções praieiras como “O Mar”, “Noite de Temporal” e “Rainha do Mar”, além do comovido testamento “Sargaço Mar”. Aclimatado ao Rio, então capital da República, forjou principalmente nos anos 50 sambas-canção urbanos que prenunciariam a bossa nova como “Marina”, “Só Louco” e “Sábado em Copacabana”. Stella faz o inventário de todo esse universo riquíssimo e não deixa de alinhavá-lo ao pano de fundo político do país, incluindo a relação de Caymmi com amigos do Partido Comunista, como o militante escritor Jorge Amado. Recheia o texto com causos desse amante do copo e das mulheres e aborda francamente o temperamento esquentado da família ítalo-baiano-mineira, indissociável dos predicados deste ourives, contemplados com um misto de espanto e veneração pelo devoto Caetano Veloso: “As canções são todas elaboradas como joias. Parecem coisas que ou são produtos brutos, diretos da terra, da natureza, ou são elaboração de deuses”. Ou artes de um “Buda Nagô”, como definiu Gilberto Gil.
Foto de Pedro Paulo Figueiredo |
Durante o lançamento, a autora Stella Caymmi e a jornalista Maria Beltrão comandarão um bate papo sobre o compositor e sua obra.
Ficha Técnica:
Stella Caymmi
Dorival Caymmi: o mar e o tempo
Prefácio de Jairo Severiano
Coleção Todos os Cantos
616 p.
16 x 23 cm
1.051 g.
ISBN 978-85-7326-554-5
R$ 76,00