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segunda-feira, 6 de maio de 2019

Turnê Nacional de Djavan chega ao Rio de Janeiro

Fotos: Cristina Granato

Espetáculo inédito traz canções de “Vesúvio”, vigésimo quarto álbum da carreira do artista e grandes sucessos de sua discografia


Um dos mais importantes representantes da música popular brasileira, Djavan está de volta aos palcos com a turnê nacional de “Vesúvio” (Luanda Records/Sony Music), vigésimo quarto álbum de sua carreira, disponível nas lojas e plataformas digitais.  Nos dias 3 e 4 de maio, o artista leva o espetáculo ao Vivo Rio, onde apresenta canções do novo trabalho, como os singles “Solitude”, “Cedo ou Tarde” e “Vesúvio”, além dos sucessos “Se”, “Flor do Medo”, “Eu te devoro” e “Samurai”, entre outras. Confira a agenda da turnê, que percorre todo o Brasil, ao fim do texto.
 

- Estou sempre buscando novas motivações e para mim pareceu um desafio imenso fazer música pop neste momento, eu que normalmente em meus discos invisto na diversificação _ afirma Djavan. _ E quis fazer um disco pop também pelo momento em que estamos vivendo, nebuloso, de tanta incerteza no país e no mundo. Queria que a minha mensagem musical chegasse com mais facilidade, com mais fluidez, cristalina.
 

Djavan apresenta uma nova banda composta por velhos companheiros, como o guitarrista João Castilho e os pianistas Paulo Calasans e Renato Fonseca, e dois músicos novos, o baixista Arthur de Palla e o baterista Felipe Alves, uma cozinha com um suingue ainda mais pop para a sua nova safra de canções. É o próprio compositor quem assina a direção do espetáculo, que tem cenário de Suzane Queiroz, projeto de luz de Binho Schaefer e figurino de Roberta Stamato.
 

A CLAREZA DA MÚSICA POP PARA ILUMINAR TEMPOS SOMBRIOS
Por Hugo Sukman
 
Há quarenta e tantos anos Djavan faz sambas. Há 16, orquídeas. Os sambas o público os conhece e admira desde sua estreia como compositor, com “Fato consumado”, em 1975. As orquídeas são uma paixão privada que ele trata com esmero de compositor no sítio, incrustado na Mata Atlântica, que mantém na região de Petrópolis e que, entre outras plantas nativas, conta com um imenso jardim - “Profissional!”, como faz questão de frisar - de orquídeas, com 850 plantas, de 360 espécies.
 

“Orquídea” é o título de um samba de “Vesúvio” (Luanda Records/Sony Music), vigésimo-quarto disco de Djavan, com lançamento no dia 23 de novembro. Une essas duas paixões. Como todos os seus sambas tem aquele estilo próprio, aquele fraseado, o sincopado único que o fazem um dos estilistas da moderna música brasileira. A letra originalíssima cita, com naturalidade, os nomes científicos de pelo menos 15 dessas espécies de orquídeas que ele cultiva, inclusive uma tal Javanica, que ouvida assim na canção lembra o nome do compositor. O que não deixa de ter um pouco de verdade: Djavan é hoje tanto descobridor de melodias como de flores, às duas, dispensa a mesma devoção. Canções e flores djavânicas, não é nenhum absurdo dizer do criador do verbo “caetanear” (que Caetano retribuiu com outro neologismo, “djavanear”), na canção “Sina”. 
 

Em comum com várias das outras canções do disco há a recorrência das metáforas e imagens da natureza, do poder avassalador da natureza, expressa na própria canção-título, “Vesúvio”: “Todo mar tem onda/Você tem um poder/Que me lembra o Vesúvio/O sol é de ouro/Que na foz do prazer/Me transforma em dilúvio”, a riqueza das rimas, a exuberância das imagens, os elementos da natureza anunciando um disco solar em contraste com o momento difícil, tenso que estamos vivendo.
 

Na verdade, o samba é uma exceção em “Vesúvio”. Trata-se, numa definição simples, inequívoca, de um disco pop. E é isso mesmo o que acontece na maior parte das músicas do disco: são canções pop. O que, no entanto, não deixam por isso de conter muitos detalhes e sutilezas. Em “Vesúvio” mesmo, por exemplo, já aparecem as duas principais influências musicais não brasileiras de Djavan e que tem a ver com sua ancestralidade: o violão flamenco executado por Torcuato Mariano já desde a introdução, e o ritmo africano, tribal, coisas que ele busca desde que começou a ir a Espanha e África (mais especificamente, Angola), nos anos 80, e que aqui está traduzido neste ritmo levado por uma bateria só de tom-tom e bumbo, executada por Felipe Alves. 
 

Num raro movimento em sua carreira, e muito devido ao tal “momento de incerteza” no Brasil e no mundo, com guerras lá fora e crise aqui dentro, Djavan fez canções com um discurso político explícito. Como o título indica, ele compôs “Solitude” num momento de reflexão e de íntima perplexidade. Ou como diz de forma tão cristalina a letra da canção: “Vidas fardos/Meros dados/Incontáveis casos/De desamor/Quanta dor/Muita dor/Quem é que sabe/O quanto lhe cabe/Dessa solitude?/Por isso a hora/De fazer é agora/Tome uma atitude”.  
 

Ainda nessa linha de denunciar a nossa passiva perplexidade cotidiana, o letrista Djavan continua uma cara tradição da poesia que é tentar traduzir em versos a irracionalidade das guerras. Se um poeta como Paul Valéry dizia, na época da Primeira Guerra Mundial, que “tanto horror não teria sido possível sem tanta virtude:  sem dúvida, foi preciso muita ciência para matar tantos homens, dissipar tantos bens, aniquilar tantas cidades em tão pouco tempo”. Agora, em “Solitude”, diante das guerras de hoje Djavan volta ao tema ainda mais conciso e preciso e define: “Guerra vende armas/Mantém cargos/Destrói sonhos/Tudo de uma vez”.
 

Musicalmente, “Solitude” tem uma primeira parte muito simples, uma melodia pop, quase um mantra, que evolui para uma segunda parte com uma construção harmônica complexa e original, típica das composições de Djavan. Como sempre em seu processo criativo, a melodia nasceu antes, foi arranjada e gravada para valer e só depois de pronta recebeu letra, como aliás aconteceu com todas as canções do disco. A música flagrou o poeta tenso com o que via do mundo, o que fez com que até a matéria-prima de suas canções, de quase todas as canções, parecesse ter menos valor e gerasse o achado poético que abre “Solitude”: “Amor em queda/Mesmo tal moeda/Perde cotação”, o amor aí tratado com a frieza do noticiário da crise econômica, mas com o absurdo da situação denunciado de forma sutil no segundo verso (“mesmo tal moeda”), a poesia ressaltando o absurdo contido na notícia fria (não fosse esse estranhamento a função mesma da poesia, não é?). 
 

Outra canção explicitamente pop e política do disco é “Viver é dever”, um rock com letra seca e direta, como pede o gênero também raro em sua obra: “Tudo vai mal/Muito sal/Nada vai bem/Pra ninguém/Nessa pressão/Quem há de dar a mão/Pra que o mundo/Saia lá do fundo/Pra respirar/E não morrer?”. E sem abrir mão das referências grandiosas à natureza: “A paixão é o sol/Que se espalha no ar...”. Assim como o funk suingadíssimo “Cedo ou tarde”, um retrato de uma atualidade marcada pelo medo, numa definição impressionante: “Quem manda é o medo/A hora é imprópria/Pra sorrir/Viver assim/Com tais dissabores/Não é brincadeira”.
 

Pop e prenhe de sutilezas são canções como “Dores gris”, com sua letra também cheia de imagens de natureza e cores (gris) tão djavânicas para traduzir o (des)amor: “O vento austral/Sopra longitudinal/As melenas da nau-solidão/E as dores gris/ De quem ama e não é feliz/É uma praga /Que dá na raiz”.
 

E a lindíssima balada do disco, a confessional “Tenho medo de ficar só”, uma das maiores homenagens ao amor na história da canção brasileira, vejam a letra desbragada, que insiste, bem no espírito de “Vesúvio”, nas metáforas de natureza, de flor: “Amar me faz superior/Tudo queda aos meus pés/Tudo me é possível/Ou crível/Esqueço os demais/Simples mortais/Só me interessa o amor/Alguém pra cultivar/Uma vida em flor”.
 

“Meu romance” é uma canção sobre o amor real, realizado, em forma de um popíssimo bolero espanhol, que recebeu uma versão quase literal em espanhol, intitulada “Esplendor”, do compositor uruguaio Jorge Drexler, a convite do alagoano. A versão será lançada mundialmente e consta como faixa bônus, com direito a dueto com Drexler, a primeira vez, aliás, que Djavan divide os vocais de uma canção num disco de estúdio próprio desde que Cássia Eller cantou com ele “Milagreiro”, em 2001. 
 

Enquanto uma outra forma de amor – o que não aconteceu – “Um quase amor” tem uma das letras mais inusitadas do disco (“Você me pede pra manter segredo/Sobre o que não aconteceu/Que eu nada tente dizer/Do que não houve/Entre você e eu/Jogando luzes/Sobre os mínimos detalhes/De algo que não se confirmou”) e talvez seja a canção mais chique, vestida pelo vibrafone jazzístico de Jota Moraes. Djavan estava com saudade desse vibrafone de pianista, no estilo do americano Milt Jackson, que apareceu já em seu segundo disco, no solo do próprio Jota Moraes em “Nereci”. 
 

“Mãos dadas” é um shuffle, aquela dança, variante do funk mas levíssima, já explorada por compositores como o seu velho parceiro Stevie Wonder em “Isn’tshelovely” – com direito a uma homenagem a ele, aliás, no improviso vocal que Djavan faz. A letra, seguindo a leveza da música, é totalmente direta: “Agi assim/Porque não tolero gente ruim...”. 
 

Apesar de ter letra tão típica de “Vesúvio”, com grandiosos versos inspirados na violência da natureza (“És minha, eu sei/Abrir-se um céu azul/Em meio à tempestade/Glacial/É normal, porque és minha”) e até nome de flor, “Madressilva” é uma exceção em termos formais: com sua melodia densa e sua estrutura harmônica parece uma peça clássica, num contraste com o espírito do disco. Djavan a compôs para isso mesmo, ser um respiro na atmosfera geral do trabalho. 
 

Com essa grande leva de canções novinhas, compostas especialmente para “Vesúvio”, Djavan não ouviu poucas vezes um “pra que isso”, um “por que tantas canções novas”? 
 
- Comecei isso há 40 anos, meu papel é fazer canções – diz o criador, seja de melodias ou flores. 
 

Ou, coerentemente como diz em “Solitude”: “parece tarde/Falar de amizade/Ver com o coração”. Mas mesmo assim Djavan resolveu não ficar parado. Foi lá e fez novas canções, ou seja, viu com o coração. Tomou uma atitude, como diz a própria canção. 
 

AGENDA DE SHOWS CONFIRMADOS
 
MARÇO
22/03 – Santos/SP – Local: Mendes Convention 
23/03 – Campo Grande/RJ – Local: Clube dos Aliados
29/03 – São José do Rio Preto/SP – Local: Villa Conte 
30/03 – Ribeirão Preto/SP – Local: Centro de Eventos Ribeirão Shopping 
 
ABRIL
 06/04 – Belo Horizonte/ MG – Local: Km Hall de vantagens 
12/04 – São Paulo/ SP – Local: Credicard Hall
13/04 – São Paulo/SP –Local: Credicard Hall
26/04 – Goiânia/GO – Local: Centro de Convenções da PUC – a confirmar
27/04 – Brasília/DF – Local: Centro de Convenções Ulysses Guimarães 
 
MAIO
03/05 – Rio de Janeiro/ RJ – Local: Vivo Rio
04/05 – Rio de Janeiro/RJ – Local: Vivo Rio
11/05 – Salvador/BA – Local: Concha Acústica
17/05 – Feira de Santana/BA – Local: Ária Hall
18/05 – Petrolina/PE – Local: Arena Iate Clube 
24/05 – João Pessoa/PB – Local: Teatro Pedra do Reino
25/05 – Recife/PE – Local: Classic Hall
 
JUNHO 
13/06 – Buenos Aires – Local: GranRex 
15/06 –  Santiago do Chile – Local: Arena Monticello 
26/06 – Porto Alegre – Local: Araújo Viana 
28/06 – Curitiba – Local: Teatro Positivo 
 
JULHO 
06/07 – São José/SC – Local: Arena Petry