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domingo, 18 de novembro de 2018

Theatro Net estreou com sucesso no sábado mais uma superprodução musical

Uma plateia que pode ser classificada como `fá de carteirinha das produções da casa de espetáculos,` aplaudiu com entusiasmo, na vesperal e na noite de sábado, as duas sessões de estreia no Theatro Net Rio  do musical '70? Década do Divino Maravilhoso', uma superprodução com 24 atores-cantores-dançarinos, dez músicos, 20 cenários e mais de 300 figurinos. Tudo isso embalado por trechos de 250 canções que marcaram os anos 1970. A luxuosa montagem revela mais uma detalhada produção que faz parte da tetralogia do idealizador, produtor e diretor geral Frederico Reder e do roteirista, dramaturgo e pesquisador Marcos Nauer.

Desta vez, a dupla leva para o palco momentos marcantes dos anos 1970 em diversas esferas: acontecimentos da política(com as cores fortes dos dias de chumbo, da repressão e perseguição politica), moda, comportamento, esportes e artes em geral que são embalados por mais de 250 sucessos das músicas brasileira e internacional, com a montagem dividida em duas partes e um intervalo de 15 minutos. como num disco de vinil, em lado A (1970-1976) e lado B (1977-1979).


De forma cronológica, depoimentos, fotografias e vídeos desfilam no grande telão que tomam conta do centro do palco nesta superprodução, apresentada pelo Circuito Cultural Bradesco Seguros, em que se podem ver retratos de nossa historia do mundo do espetáculos, com cenas de Leila Diniz no musical de rebolado Tem banana na banda, trechos de apresentações de cantores que deixaram muitas saudades como Maysa, Cauby Peixoto, Angela Maria, Tim Maia, Orlando Silva e Cartola, alem de fatos históricos como o aparecimento do grupo Secos e Molhados, uma breve aparição de Eliana Pittman em Paris e ate o inicio do romance de Tony Tornado e Arlete Salles, que na época rendeu capas nas revistas da Editora Bloch.


No trabalho de pesquisa dos fatos relevantes desta época, a montagem pecou por deixar de lado três ícones que brilharam muito nos anos 70, como Marília Pera (inesquecível em Apareceu a Margarida, que lhe deu um Premio Molière), Zezé Motta, que brilhou no filme Xica da Silva, de Caca Diegues e a maior figura gay do Brasil, Rogéria, ganhadora de um prêmio Mambembe de Teatro e que no inicio dos anos 70 voltava mundialmente consagrada de Paris.

As Frenéticas Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra são as três cerejas do musical, no bloco dedicado à febre das discotecas, fenômeno que estourou nas pistas de todo o mundo há exatos 40 anos, inclusive no Brasil, por meio da novela ‘Dancin’ Days’, de Gilberto Braga. “Símbolos de uma época”, como define Nelson Motta, as Frenéticas, que foram descobertas pelo jornalista e produtor musical em 1976, estouraram em todo o Brasil com a música “Perigosa”, de autoria dele em parceria com Rita Lee e Roberto de Carvalho.


O grupo de seis amigas (Leiloca, Sandra Pêra, Lidoca, Edyr de Castro, Dhu Moraes e Regina Chaves), que se reuniram na boate Frenetic Dancing Days, como garçonetes, logo largaram as bandejas e se transformaram em um dos maiores fenômenos da música brasileira. Estamparam a capa das principais revistas, lançaram clássicos instantâneos como o tema da novela homônima e ditaram moda.

As Freneticas abriram as asas, soltaram as feras e transgrediram em um Brasil onde se confrontavam censura, liberdade de expressão, feminismo e empoderamento. Esses temas continuam atuais e são abordados na montagem, que segue o bem-sucedido gênero criado por Reder e Nauer em ‘60! Década de Arromba’, o Doc.Musical.

“Reunimos teatro, documentário e música. Este formato me permitiu unir tudo isso e ainda propor um novo olhar para a forma de se fazer um espetáculo musical”, vibra o diretor. “O doc.musical não apresenta a biografia de nenhum artista, porque o olhar está no coletivo, no grupo, numa época, portanto, é de fato, a música a grande protagonista”, explica Nauer.

O título do musical traz uma interrogação porque propõe questionamentos sobre as dualidades do período. “Uma década de incertezas”, como conceitua Cid Moreira em uma das retrospectivas apresentadas em projeção dentro do espetáculo.

Em toda a América Latina, a ditadura apertava o cerco, a censura era cada vez mais intensa, a liberdade, cerceada. E a arte surgiu exatamente como uma possibilidade de redenção. “Os anos 70 mostraram vários caminhos possíveis por meio da arte, da música e da dança. E em todos eles era preciso ser forte para sonhar com um mundo novo e melhor”, pondera Nauer. “Foram anos de muita luta e força. Há canções que captam essa aura, mas há também muitas outras de muita beleza e aquela explosão de alegria com o surgimento da disco music”, acrescenta Reder.

Na grande timeline do musical, outros movimentos, como o tropicalismo, o glam rock, o punk e o reggae serão revisitados com suas mais emblemáticas canções. De Novos Baianos (“A Menina Dança”) a David Bowie (“Starman”), Raul Seixas (“Há Dez Mil Anos Atrás”) a Led Zeppelin (“Stairway to Heaven”), Mutantes (“Top Top”) a Queen (“Bohemian Rapsody”), Caetano Veloso (“Sampa”) a Donna Summer (“Last Dance”), e Bob Marley (“No Woman, No Cry”) a Sex Pistols (“Anarchy in the UK”), os números não vão apresentar atores personificando os ícones da época. Os sentimentos que essas músicas emanam é que vão ditar as ações e coreografias assinadas por Victor Maia, que também cuida da direção de movimento.

“70? Década do Divino Maravilhoso - Doc.Musical”, que chega agora ao palco do Theatro Net Rio, não se furta de narrar esses momentos polêmicos, mas é, sobretudo, uma ode à superação, à beleza, à alegria, à capacidade criativa de um povo que jamais se deixa abater. “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”, como diz a emblemática canção-título de Caetano e Gil. Podemos e merecemos ser felizes.

Além de Frederico Reder e Marcos Nauer, o espetáculo ainda traz outros nomes de peso, como o do figurinista Bruno Perlatto, o iluminador Césio Lima, o diretor musical Jules Vandystadt, a cenógrafa Natália Lana e diretora de produção Maria Siman. Uma ficha técnica que promete mais décadas brilhantes, rumo aos 80, 90 e quem sabe muito mais.

No palco, emocao pura, a eterna Frenética Leiloca Neves desabafou para o publico: 'É uma maravilha pisarmos aqui no palco deste teatro depois de 40 anos. Foi aqui que a gente se apresentou pela primeira vez em janeiro de 1978 e foi consagrada no Rio de Janeiro.

O musical de Frederico Reder e Marcos Nauer vai dos sucessos de Elton John à potência de Tim Maia; do amor em forma de música dos Carpenters à garra de Milton Nascimento e o Clube da Esquina.O recheio musical tem ainda muito mais, como recorda Sandra Pêra: 'Rita Lee, Elis Regina, Ney Matogrosso, Secos e Molhados, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Novos Baianos, Dzi Croquetes, Odair José, Chico Buarque, Gonzaguinha, Ivan Lins, Sidney Magal, Djavan, Raul Seixas, Reginaldo Rossi, Lady Zu, e mais e mais'!'

Frederico Reder pontua: 'O amor nasce da dor. Não tem como uma criança nascer sem a mãe sofrer. Não tem como. Eu acho que o tamanho da dor de 70 fez o maior repertório da música brasileira.'

SERVICO 
THEATRO NET RIO 
Elenco: Dhu Morais, Leiloca Neves, Sandra Pera, Amanda Döring, Amaury Soares, Aquiles Nascimento, Barbara Ferr, Bruno Boer, Camila Braunna, Debora Pinheiro, Diego Martins, Erika Affonso, Fernanda Biancamano, Larissa Landim, Laura Braga, Leandro Massaferri, Leilane Teles, Leo Araujo, Nando Motta, Pedro Navarro, Pedro Roldan, Rany Hilston, Rodrigo Morura, Rodrigo Naice, Rodrigo Serphan, Rosana Chayin e Tauã Delmiro.
ESPETACULO- '70? Década do Divino, Maravilhoso. Doc Musical'
Sala Tereza Rachel
Rua Siqueira Campos, 143
Copacabana
até 16 de dezembro 
quintas e sextas, às 20h30M
sábados, às 17h e 21h
domingo, às 18h
ingresso a partir de R$ 20 (balcão com visão parcial)
classificação 14 anos