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quarta-feira, 4 de julho de 2018

LBV socorre família após incêndio na região central de São Paulo

Na foto, a mãe Fernanda da Silva com os filhos: Aline Vitória da Silva de Souza, 9, Guilherme da Silva de Souza, 6, e Diego da Silva de Souza, prestes a completar 1 ano de idade.
Em episódio vivido em 2012, Fernanda e os filhos contaram com a Legião da Boa Vontade para recomeçar.

Por: Erica de Oliveira
Fotos: Vivian R. Ferreira

Você já visitou a região central de São Paulo? O local abriga construções e monumentos que contam a história da maior metrópole da América Latina.

A cidade abriga pessoas de todo o Brasil em busca de melhores oportunidades e também é reconhecida internacionalmente pelo turismo de negócios, que atrai investidores de todo o mundo.

Tirada do alto do Viaduto do Chá em 1961, essa imagem mostra o Vale do Anhangabaú completamente diferente daquele que estamos acostumados a ver nos dias de hoje: constituído de asfalto e cheio de veículos. Foto: www.saopauloantiga.com.br



Mas neste cenário também vimos a população de rua crescer, a violência e a insegurança aumentarem e o desemprego alcançar um número grande de pessoas. E na região central esses dados são ainda mais evidentes.

Não por acaso, o Centro é a região que mais ameaça o desenvolvimento da infância na capital paulista. 

1 milhão, de 100 mil crianças de até 6 anos, moram em SP. É na região central onde a criança, de até 1 ano de idade, mais corre o risco de morrer, segundo dados do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância, da Rede Nossa São Paulo.




Segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo, dos 96 distritos da capital, o bairro que tem o maior número de crianças vivendo em área de vulnerabilidade social em São Paulo é o Bom Retiro.

O bairro fica localizado na região central de São Paulo e segundo o mesmo levantamento, o distrito da Sé é o local onde mais morrem crianças de 0 a 1 ano de idade.

Justamente para socorrer essa necessidade, é no Bom Retiro onde fica o Conjunto Educacional Boa Vontade que atende, diariamente, 1500 crianças e adolescentes.

A LBV preserva a infância no bairro do Bom Retiro desde 1986 com a Supercreche Jesus. O terreno onde a escola foi construída era disputado por grandes empresas na época. Contudo, o educador Paiva Netto percebia a importância de ter, naquele espaço, uma obra socioeducacional dedicada às numerosas famílias em situação de vulnerabilidade social. É o reconhecimento da LBV se fazendo presente onde há necessidade do povo.


Bem próxima à unidade da LBV está a comunidade do Moinho. Estima-se que cerca de 1.900 pessoas vivam lá atualmente.

A última comunidade do centro de São Paulo existe há cerca de 28 anos e ocupa a área do antigo Moinho Matarazzo, localizada entre duas linhas de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e o viaduto Engenheiro Orlando Murgel, no Campos Elíseos.

 Ao redor dela existem a cracolândia, ocupações irregulares e cortiços.

Foto tirada pela internauta Sandra Cardoso registra o viaduto Orlando Murgel, que liga as avenidas Rio Branco e Rudge. Embaixo, a Comunidade do Moinho. Foto: Sandra Cardoso (internauta)


Esses ambientes unidos à alta criminalidade do centro de SP formam um terrível cenário: é a região onde a infância e a adolescência são mais ameaçadas.

Presente onde o povo precisa, a Legião da Boa Vontade está a apenas três quadras da comunidade do Moinho. Ultrapassamos a linha do trem e encontramos Fernanda. A mãe tem a família atendida pela LBV desde 2011, está desempregada e cuida dos três filhos. Todos são alunos do Conjunto Educacional José de Paiva Netto.

Infância catando latinha
A mãe convida a equipe para entrar em sua casa, pede para não repararmos na simplicidade do local e ressalta que com adaptação tudo se dá um jeito. A cortina separa o banheiro do resto da casa, sobras de cimento viraram o contra piso e por aí vai. Tudo limpo, organizado.


Em 1993, há 24 anos, Fernanda da Silva, com 12 anos de idade, juntamente com sua irmã e mãe, chegou para ocupar um dos barracos. A família vinha de uma outra ocupação que existia no bairro da Armênia.

A vida difícil fez com que desde muito nova Fernanda vivesse a sua infância e juventude de outra forma: “Quando era pequena catava latinha na rua, papelão pra gente ter o que comer em casa. E isso não é vergonha para mim, porque era a gente correndo atrás das coisas para não passar fome”.


“Eu nasci em São Paulo, minha mãe veio do Ceará. Eu sempre morei em comunidade ou em invasão. É ruim porque você precisa ficar pulando de um lugar para outro, você não tem um lugar fixo e isso foi algo que marcou para mim quando eu era criança.”

Mas não apenas a infância provou-se ser uma fase difícil para Fernanda.

“No momento estou desempregada, mas continuo procurando emprego. Eu tenho três filhos e antigamente eu morava mais ali embaixo do viaduto, que foi onde pegou fogo.”

Em 2012, em um episódio que mobilizou toda cidade de São Paulo, a comunidade do moinho pegou fogo.

   Fumaça pôde ser vista a quilômetros de distância. Foto Divulgação:Felipe Tesser



Foto: Macelo Camargo/ABr

O incêndio
“Eram 7 horas da manhã, numa segunda-feira. As crianças estavam arrumadas para ir para a escola e aí começou a pegar fogo embaixo da ponte e tinham muitos fios, então pegou muito fácil no meu barraco. Dos que estavam por aqui, o meu foi o primeiro que pegou fogo. Então foi o meu ex-marido e mais um vizinho para tentar apagar, só que estava muito forte. Aí, a gente desceu gritando que estava pegando fogo e avisando todo mundo.”

Fogo por toda a parte, muita fumaça sendo inalada por todos, Fernanda precisou agir rápido. O seu primeiro pensamento: salvar os seus filhos.

Diego é o filho mais novo de Fernanda. Guilherme era da sua idade quando a casa foi queimada e precisou, eventualmente, dormir na rua.


“A minha casa era toda de madeira e o fogo estava consumindo tudo. Eu peguei as minhas crianças, coloquei no braço e saí de casa com a roupa do corpo. Foi muito difícil ver tudo aquilo, tudo o que a gente construiu estava ali naquela casa e a gente perdeu tudo, tudo, até os nossos documentos.”

Apesar da grande simplicidade do barraco em que moravam, o local representava todo o esforço que a sua família tinha conquistado por anos. Todas as latinhas recolhidas por anos, as faxinas e outros trabalhos informais tinham se transformado em cinzas.

“Na primeira noite a gente até dormiu na rua, ali na calçada.“

Perder tudo da noite para o dia
Com três crianças para cuidar, a mãe e o pai precisaram se virar para, mesmo em grave situação de necessidade, dar o melhor para os seus filhos.

“O pessoal da LBV ajudou a gente bastante, com mantimento, roupa, com palavras de incentivo, porque isso também faz a diferença. Eu sabia que podia contar com a ajuda da LBV, mas ela veio maior do que eu esperava. Quando pegou fogo aqui, a gente não tinha como tomar café e eu fiquei com a consciência tranquila porque sei que na LBV eles iam comer, tomar café. O uniforme do Guilherme ele ganhou de novo lá, senão ele não teria uniforme para ir.”

A mãe está desempregada e sustenta a casa com o valor de auxílio do governo e por meio da pensão que recebe do pai das crianças. Os três filhos da Fernanda: Aline, Guilherme e Diego são acolhidos pela Legião da Boa Vontade. Guilherme, o filho do meio, também passou junto com a mãe pelo programa Cidadão-Bebê, no Centro Comunitário de Assistência Social Dr. Osmar Carvalho e Silva, também localizado próximo à unidade escolar.

Filhos na Comunidade
“Eu, com sentimento de mãe, ficava imaginando como seria com meus filhos crescendo aqui, se eu conseguiria uma escola boa para eles, como que eu ia conseguir trabalhar se eles ficassem a tarde aqui em casa. Porque aqui tem os traficantes e o meu medo com os meus filhos é justamente sobre a presença das drogas, tem adolescentes que se envolvem com as drogas... Vendendo, usando.”

Cuidado com os filhos é a principal preocupação da mãe.


“Tem gente de má fé que se aproveita das crianças que ficam sozinhas. Então todo mundo aqui quer uma vaga na LBV.”

Por tantos motivos, a mãe, quando perguntada sobre como resume a LBV em uma só palavra, diz: “Essencial.”

O barraco onde moram Fernanda e seus três filhos foi construído com tijolos para que, em caso de novos incêndios, as chamas não se espalhem tão depressa, mas além disso há outros graves problemas. “Aqui, as principais dificuldades são, por exemplo, a gente queria por uma luz, água. Só que não tem como, então falta luz, falta água... Aqui tem muito lugar que, como não é asfaltado, fica cheio de lama”.

A chance que faltava
Mas, diante de todo esse cenário, qual a importância dos filhos de Fernanda estarem na LBV? A resposta, ela mesma conta: “Eu sempre estudei em escolas públicas e eles na LBV. Lá, tem um diferencial na Educação, que é diferente de todas as outras [escolas]. É diferente a atitude dos meus filhos com as pessoas, eles são bem-educados na LBV. Eu sei que com o que eles recebem lá, eles terão mais oportunidades do que tive na infância por causa da educação de qualidade que eles têm hoje.”

A Educação recebida na Instituição faz com que as crianças inspirem ações e exemplos dentro da própria comunidade: “As outras crianças não é que não respeitam, mas eu percebo que os meus filhos gostam mais de ajudar os outros, eles respeitam. Eles falam que gostam de estudar lá, que nunca querem sair de lá para ir para outra escola. O horário lá é muito bom, eles ficam o dia todo. Para mim é ótimo.”

O sentimento de Gratidão preenche o coração de todos da família de dona Fernanda! E que sorrisos lindos, né?


No tempo em que os filhos estão na LBV, Fernanda vai em busca de emprego que ajude no sustento da casa.

“As outras crianças aqui da comunidade estudam tudo meio período e eu sei que meus filhos estando na LBV estão seguros e eu fico tranquila. Se eles ficassem aqui iam ter os perigos da linha do trem, a gente não conhece todo mundo que mora aqui. Por eles estarem o dia todo na LBV eles não ficam expostos fora aqui de casa, por conta das drogas, violência... Tem muita gente que entra aqui, então tenho medo de alguém entrar e pegar eles.”

Doador, você faz a diferença na vida da família da Fernanda!
“Eu quero dizer para vocês que ajudam a LBV que continuem ajudando porque muitas pessoas dependem da LBV, pessoas das comunidades que são ajudadas por vocês. Tudo o que eu tenho é por cauda da LBV, por conta dos meus filhos estudarem lá. Eu agradeço de coração.”

Além de Fernanda, muitas outras famílias recebem o atendimento transformador da Legião da Boa Vontade. Na mesma comunidade de Fernanda, já visitamos o lar da avó Eunice, que teve a sua primeira ceia de Natal graças à ajuda da LBV, conheça essa história. Também no centro de SP, a Cheila, que mora com os filhos em uma Ocupação, contou a sua história de agradecimento ao colaborador da Instituição.