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quinta-feira, 7 de junho de 2018

Mãe se recupera da vida nas ruas de SP e recomeça com ajuda da LBV

Moradora de rua, ela mexia nos lixos para encontrar comida para os filhos.

Por: Erica de Oliveira
Fotos: Vivian R. Ferreira

A história que vamos conhecer é a da sra. Maria Santos de França, 46 anos. Ela mora em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, e chegou vinda da cidade de Santa Rosa do Inhotim, no Pernambuco.

Uma história de esperança
Logo no início da entrevista, ela revelou as grandes dificuldades que enfrentou quando chegou, há 20 anos, na cidade de São Paulo.

Conta que chegou com nada além da esperança de conseguir emprego e sustento para ela e os dois filhos.

Porém, com o estudo completo só até a 5ª série e sem recomendação para ocupar uma vaga de emprego, foi parar na rua com os filhos.

O desafio de morar nas ruas
“Eu cheguei ao ponto de catar lixo para conseguir comer, quer dizer, não para eu comer, mas para dar para os meus filhos. Porque se eu comesse, aquele lixo que eu catava, os meus filhos não teriam o que comer.”

A cada dia, Maria via o sol se pôr e logo depois nascer em um novo dia. Porém, o raiar do sol, que despertava a grande cidade de São Paulo, para Maria não representava o nascer de oportunidades.

Na capital paulista, há entre 20 mil a 25 mil moradores de rua.
“Eu morava embaixo de uma escada na região do Grajaú, em São Paulo. Ficava lá para eu e meus filhos não pegarmos chuva, aí eu forrava com papelão e colocava eles para dormir. Eu mesma não dormia, porque era a mãe cuidando dos ‘bichinhos’, né?”

Sem escola, os filhos brincavam em cima do papelão. Pequenas pedras encontradas no chão serviam de distração para as crianças passarem o dia.

As horas arrastavam-se lentamente e a procura da mãe por alguma comida nos lixos, ou por doação de alimentos, não cessava.

O dia mais difícil da sua vida
“O dia mais difícil foi o dia que senti o cheiro de um café. Eu tinha acabado de ir no lixo de uma padaria, que eles tinham jogado o pão fora, aí eu peguei esse pão e dei para os meus filhos comerem. Só que na hora que eles estavam comendo eu percebi que ele estava embolorado. E aí subiu um cheiro de café [da padaria ao lado] Eu queria tanto ter um café fresquinho para gente tomar. Só que a gente só tinha aquele pão embolorado.”

Dias após o fato, uma das pessoas que trabalhava na lanchonete ao lado conversou com a dona Maria. Perguntou o que ela precisava e a mãe sinalizou: “Eu só quero um trabalho para conseguir sair da rua e tirar meus filhos daqui”.

Maria foi indicada para trabalhar numa casa de família. Neste lugar, ela trabalhou e morou em um quarto com seus dois filhos por dez anos.

Após esse período, dos dois filhos, um foi morto por conta da violência e a outra mora há alguns quarteirões da atual residência dela.

O recomeço e o encontro com a LBV
Após alguns anos, Maria foi morar em Mogi das Cruzes, interior de SP, e conheceu o futuro marido e, tempos depois, nascia Rebeca França de Jesus, a filha mais nova.

Atualmente, os dois possuem empregos. O marido, sem carteira assinada, trabalha como ajudante em uma mecânica e dona Maria como auxiliar de limpeza em um hospital. Eles moram no jardim Santos Dumont, um local de muitas vulnerabilidades.

A mãe trabalha até às 22h todos os dias.

“Ficou uma situação difícil porque eu entrava para trabalhar de manhã e não tinha com quem a Rebeca ficar à tarde. E, então, me contaram de uma Instituição que se chama LBV.”

A mãe chegou na unidade, contou a sua história para a assistente social e inscreveu a sua filha para fazer parte do programa Criança: Futuro no Presente. A partir desse momento, a família de dona Maria passou a ser acolhida pela Legião da Boa Vontade.


Hoje, a filha está com 9 anos. “Nesses quatros anos que a LBV atende a minha família, eu estou vivendo a Paz, o Amor, o carinho em todos os aspectos. Melhorou tudo!”, disse.

Feliz com a vaga, a mãe não imaginava o tamanho do auxílio da LBV. O apoio da Instituição iria se intensificar para dona Maria por conta de uma notícia inesperada: o diagnóstico de câncer de mama.

Apoio em um momento difícil
Segundo a Agência Internacional para a Pesquisa do Câncer, o câncer de mama é o tipo mais comum de câncer e que mais mata mulheres em todo o mundo.

Maria contou com a rede pública para todo o tratamento. O seu corpo, em fase frágil e debilitada, estava recebendo os cuidados necessários. Mas, e a saúde mental da mãe? E o apoio para Rebeca? A ajuda veio e chegou na hora certa.

A situação mais marcante da LBV na minha vida foi quando eu descobri que estava com câncer de mama. Foi um período que eu não tinha como cuidar da minha casa, da minha filha... Faltavam as coisas de comer em casa. Aí eu fiz um bilhete e pedi para a minha filha entregar na LBV.”


No bilhete, a mãe relatava tudo o que estava acontecendo: a falta de comida, de roupa, de cobertor.

“A equipe da LBV acolheu tanto a mim quanto à minha filha. Tanto é que não tive problema nenhum com a Rebeca. Não afetou nada emocionalmente nela, cuidaram dela mais do que eu cuido. O psicológico dela não afetou em nada. Nem o meu e nem o da minha família.”


“Quando você descobre o câncer de mama o chão abre e você cai dentro, viva. E a LBV construiu a minha família: eu pedi para receber uma visita na minha casa aí eu percebi que estava com a pessoa certa: com a LBV”.

Os dias foram passando e a mãe enfrentava as sessões de quimioterapia. Ela viu o seu cabelo começar a cair e, com isso, o desânimo poderia alcançar o seu coração, mas como a própria dona Maria conta: “A equipe da LBV sempre me falava ‘Dona Maria, tá difícil, mas vai passar’. E eu ali carequinha e eles ‘Confia que vai tudo melhorar.’ E melhorou.” O câncer regrediu e ela, atualmente, faz consultas de acompanhamento.


“Chegou um ponto que até roupa, cesta de alimentos, durante uns 4 meses, eu recebia da LBV. Porque, como eu tinha sido operada recentemente e estava fazendo quimioterapia, estava muito difícil porque eu e o meu esposo não recebíamos pagamento, porque ele precisava correr junto comigo para o médico. Então a LBV, naquele momento, construiu a minha família. A LBV é mais do que a gente imagina.”

Complementando a renda da família
Enquanto estava com câncer de mama, a mãe pediu, em prece, que Deus a ajudasse a enxergar alguma opção de fonte de renda para a sua casa e a resposta veio de imediato: fazer tapioca. A atividade ocuparia a mente da mãe e também complementaria a renda da casa.


“Essa tapioca sai bastante, eu levo para o meu serviço, lá no hospital, e vendo para o pessoal de fora. A de requeijão com calabresa é a que mais sai.”

O sentimento de gratidão com a Legião da Boa Vontade é tão forte que a acompanha para onde quer que ela vá: “Comigo é assim: fale de mim, mas não fale da LBV. Porque eu falo o quanto eles cuidaram de mim. E até hoje! O que eu preciso, seja um apoio, uma conversa.”

O apoio e confiança que a LBV envolveu em torno da mãe fez com que ela compartilhasse a sua história de superação com outras pessoas.

“Uma vez uma moça contou que recebeu uma ligação da LBV e eu falei ‘A senhora pode confiar nesta Instituição.’ Ai eu contei a minha história pra ela, falei que a minha filha fica lá, que o transporte da LBV pega ela e as outras crianças da comunidade e vão tudo pra lá. Ela almoça e lancha lá. A senhora confie neles, porque eu sou uma filha da LBV.”


Segurança e cuidados com a filha Rebeca
A região onde mora a família de Rebeca e de centenas de outras crianças atendidas pela LBV é uma zona de risco para a infância.

Vendas de drogas, tráfico, sequestro... violência. São muitas as situações extremas em que crianças de famílias carentes são expostas nesse local.

“A realidade das crianças que não estudam aqui na LBV é muito difícil: Crime, droga... Eles ficam na rua presenciando muita coisa ruim. A minha filha estando na LBV eu fico despreocupada, porque ela tem alimentação, ela aprende muito. Eles ajudaram a minha filha, porque eu não sei muito ler e nem escrever e chegou ao ponto de eles ajudarem ela com a lição de casa e ela não repetiu um ano na escola. Então, para mim, a LBV foi mãe, tia, avó, tudo. A LBV é sorriso!”

Além de opção segura para deixar a filha enquanto trabalha, a mãe tem a certeza de que ela recebe o melhor em qualidade. Oportunidades que a dona Maria não teve na infância, a Rebeca tem no presente.

“Ela chega e conta que teve aula de dança, flauta... Olha que bonito. Coisa que eu não tive, ela tem. Quando ela chega em casa eu pergunto se ela vai comer e ela diz ‘Não, mãe, eu vou almoçar na LBV, não posso comer nada que vai ser frango assado na LBV (risos).”

Com a palavra, Rebeca:


A filha reconhece todo o esforço que a mãe faz para dar para ela o que de melhor pode oferecer. “Eu tenho muito orgulho da minha mãe”, destaca Rebeca.

Das inúmeras atividades desenvolvidas na Instituição, ela destaca: “Aqui eu gosto de dançar, tocar flauta, então a minha parte favorita [do dia] é estar aqui na LBV. Eu gosto quando o meu grupo se reúne e a gente brinca no gramado. Aqui tem alimentação, a gente vai para sala de vídeo, vai para a quadra. Aqui na LBV eu tenho muito amigos, mais do que eu tinha antes. Eu agradeço a todos que ajudam a LBV, porque aqui eu sou muito feliz”.

Aos Colaboradores da LBV
Em um gesto de pura gratidão, a mãe conclui: “Eu agradeço e quando a LBV ligar na sua casa, acredite. Porque eu sou uma filha da LBV, porque é através da doação de vocês que eu estou aqui agradecendo por tudo o que a LBV fez na minha vida e faz até hoje. Agradeço de coração a todos vocês.

É você que colabora e proporciona toda as vitórias alcançadas pela dona Maria e pela Rebeca! Para todos vocês o nosso agradecimento: