Arma foi esculpida artesanalmente pelo cuteleiro Cassio Selaimen e iria a leilão após as filmagens Foto: Cassio Selaimen / Arquivo Pessoal |
Fotos: Cassio Selaimen / Arquivo Pessoal / Felipe Valduga / Albert Moreira / Divulgação
Polícia Civil resgatou a arma com um morador de Cruz Alta, que comprou o objeto por R$ 1,9 mil em um leilão virtual promovido por casa do ramo do Rio de Janeiro. O homem que estava com a posse da raridade não agiu de má-fé, acredita o delegado do caso
Peça rara forjada especialmente para as gravações do filme O Tempo e o Vento, um punhal de aço damasco foi recuperado pela Polícia Civil em Cruz Alta, no interior gaúcho, depois de quase cinco anos de sumiço. A arma, usada no filme pelo personagem Pedro Missioneiro, foi esculpida artesanalmente pelo cuteleiro de Porto Alegre Cassio Selaimen. Ele diz que a sua criação deveria ir a leilão após as filmagens, com a reversão do dinheiro arrecadado para a Santa Casa de Misericórdia, na capital do Rio Grande do Sul.
Isso não ocorreu porque o objeto foi furtado. Não se sabe se o crime ocorreu na cidade cenográfica Santa Fé, instalada à época no interior de Bagé, ou no set de filmagens no Rio de Janeiro. O tempo passou sem solução para o caso, mas, em abril deste ano, após receber uma informação de que o objeto estaria em Cruz Alta, Selaimen decidiu registrar boletim de ocorrência na cidade.
— A pessoa comprou no leilão recentemente, pagou R$ 1,9 mil. E agora estava tentando revender em grupos de colecionadores do WhatsApp. Printaram as telas e me avisaram. É uma peça que ficou famosa por ter sido furtada. Eu conheço a pessoa que estava com a peça, é de boa-fé. Eu avisei para que não vendesse porque iria se incomodar. E registrei o boletim de ocorrência — conta Selaimen, ortodontista que se dedica à cutelaria nas horas vagas.
Nesta sexta-feira (21) pela manhã, agentes da 1ª Delegacia de Polícia de Cruz Alta apreenderam a arma, que estava em posse de um morador da cidade gaúcha que havia adquirido o punhal em um leilão virtual promovido por uma casa do ramo do Rio.
O delegado Josuel Muniz diz que o comprador não agiu de má-fé. Ele não teria conhecimento, no ato do arremate, de que a peça havia sido utilizada nas gravações do filme e esculpida especialmente para esta finalidade.
— Não vejo como indiciá-lo. Estou certo de que não houve dolo. E não me parece que ele teve culpa porque comprou em uma casa de leilão famosa, tem a documentação da compra, tem nota fiscal — avalia Muniz.
A Polícia Civil apurou, junto a especialistas e colecionadores, que o punhal vale aproximadamente R$ 25 mil devido a fatores como originalidade, estética, qualidade, fator histórico e autoria, já que Selaimen é um dos cuteleiros mais conhecidos do país.
Objeto vale aproximadamente R$ 25 mil devido a fatores como originalidade, estética e fator histórico Foto: Cassio Selaimen / Arquivo Pessoal |
— Vamos tentar identificar o furto, onde e como ocorreu. E, se possível, quem foi o autor — explica Muniz.
Enquanto perdurarem as investigações, o punhal ficará no cofre da 1ª Delegacia de Polícia de Cruz Alta. O destino da raridade ainda está indefinido.
— Provavelmente vá a leilão para beneficiar a Santa Casa de Misericórdia, como era o plano inicial, ou volte para o Cassio Selaimen — diz o delegado.
Cenas de O Tempo e o Vento gravadas no município de Candiota, no Rio Grande do Sul, em 2013 Foto: Felipe Valduga / Divulgação |
— Certamente essa peça vai ser devolvida para mim. Como estou sempre envolvido em leilões beneficentes, não vai faltar oportunidade para fazer uma festa e o leilão desse punhal para a Santa Casa de Porto Alegre — projeta Selaimen.
O filme e o punhal
Atriz Cleo Pires, que interpretou a personagem Ana Terra, nas gravações de O Tempo e o Vento feitas no Rio Grande do Sul Foto: Albert Moreira / Divulgação |
O punhal esculpido pelo cuteleiro Cassio Selaimen foi utilizado pelo personagem Pedro Missioneiro, interpretado pelos atores Matheus Costa e Martín Rodriguez nas fases jovem e adulta, respectivamente. O objeto foi concebido para reproduzir as características de um punhal trazido pelos jesuítas da Europa. Selaimen foi responsável pela confecção da peça, com a forja da lâmina, o cabo, o desenho e a montagem. A prataria, que consiste nos enfeiteis de prata do punhal, são de autoria de Flávio Marson.
Objeto foi concebido para reproduzir as características de um punhal trazido pelos jesuítas da Europa Foto: Cassio Selaimen / Arquivo Pessoal |