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sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Perto de completar duas décadas, Enfermaria do Riso atua no HUGG

Estudantes de Artes Cênicas fazem parte do cotidiano hospitalar e auxiliam no processo terapêutico

Há quase 20 anos, o Programa Enfermaria do Riso/UNIRIO desenvolve suas atividades, tendo como base a formação artística e acadêmica de estudantes da Escola de Teatro da UNIRIO, para atuação como palhaços em hospitais no Rio de Janeiro.

Idealizado e coordenado, desde 1998, pela Profa Dra Ana Achcar, o programa conta com enfermeiros-palhaços que atuam em dupla, duas vezes por semana, nas dependências pediátricas do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle (HUGG), filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

Os estudantes de Artes Cênicas são apresentados às noções de higiene hospitalar e à equipe de Saúde que opera nas áreas de atuação, integrada por médicos, enfermeiras, psicólogos, residentes, chefes de setor (CTI pediátrico, Enfermaria e Ambulatório), incluindo pessoal da segurança e da limpeza. Após cada atuação, os estudantes produzem relatos que são avaliados em reunião mensal sob a direção da coordenação do Programa e em sessões de supervisão psicológica.

Já para os profissionais da Saúde, o Programa cria a oficina de teatro Riso na Saúde, com o intuito de possibilitar aos participantes a vivência dos princípios que orientam as atuações dos palhaços no hospital. A prática auxilia no estreitamento de laços entre a equipe de Saúde e os artistas, facilitando o diálogo e a troca de informações.

— O trabalho deve ser colaborativo. O palhaço olha para um lado da criança e a equipe de saúde se preocupa com outro, enxergando de maneira diferente aquela situação —, afirmou Ana Achcar.

Além disso, o projeto conta com o espetáculo PalhaSOS, existente desde 2006, que considera as experiências dos enfermeiros-palhaços nos hospitais, expondo na forma de cenas e números cômicos sua visão sobre o cotidiano hospitalar. A exibição já foi premiada duas vezes em festivais internacionais. Em 2009, na Tunísia,  e, em 2010, na Rússia.

Entretanto, deve-se salientar que a representação do palhaço do hospital é diferente daquela vista em peças, fazendo com que o cuidado da atuação seja redobrado.

— O palhaço no teatro é o foco, você vai para assisti-lo. Aqui ele é quase um coadjuvante, o centro é a criança. E essa transferência acarreta mudanças para a própria figura do ator. Temos o cuidado, então, para não deixar que a alegoria se docilize a ponto de perder a força transgressora que o palhaço tem, afinal é graças a esse poder que ele hoje está no hospital —, explicou Ana.

— É um outro campo, uma descoberta muito nova, de um outro lugar do palhaço. É outro tipo de conexão com as pessoas, é um contato mais direto —, completou Akauã Santos, palhaço desde abril de 2017 no HUGG.

Já o chefe da Pediatria, Prof Dr Edson Ferreira Liberal, ressaltou a importância da interdisciplinaridade no processo terapêutico.

— Precisamos entender que estamos diante do humano e o palhaço auxilia na desconstrução dessa relação fria. Queremos buscar saúde, mas  devemos lembrar que a criança tem uma parte lúdica a ser desenvolvida, e que o palhaço ajuda nesse procedimento —, assegurou o pediatra.

Wanderson Rosceno, atuante há um ano e meio no Hospital, partilha da mesma opinião:
— É um trabalho difícil devido à criação de uma relação com a criança e o seu estado de saúde, mas o nosso objetivo é fazer com que ela pense em outras coisas, perceber que ainda tem muita vida pela frente. A gente trabalha com a vida, não com a doença. É árduo, mas  prazeroso —, concluiu Wanderson.

Sobre a Ebserh
Desde dezembro de 2015, o HUGG-UNIRIO é filiado à Ebserh, estatal vinculada ao Ministério da Educação que administra atualmente 39 hospitais universitários federais. O objetivo é, em parceria com as universidades, aperfeiçoar os serviços de atendimento à população, por meio do SUS, e promover o ensino e a pesquisa nas unidades filiadas.

A empresa, criada em dezembro de 2011, também é responsável pela gestão do Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (Rehuf), que contempla ações nas 50 unidades existentes no país, incluindo as não filiadas à Ebserh.