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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Apesar dos obstáculos religiosos, a Parada da Resistência obteve o sucesso em Copacabana

De Luiz Carlos Lourenço 
Fotos de Daniel Marques 

Num clima de cordialidade e com uma boa queda nos registros policiais de furtos ou confusões, comparando-se aos anos anteriores, mais de 800 mil pessoas se concentraram ontem em Copacabana, na Zona Sul do Rio, para a 22ª Parada do Orgulho LGBTI - lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e pessoas intersexuais; Famílias inteiras e turistas vindos de outros estados e do exterior participaram do evento, que contou com seis trios elétricos percorrendo a Avenida Atlântica desde às 16h.


Os presentes pediram respeito à diversidade e fizeram protestos contra o prefeito Marcello Crivella, o abandono da administração na área da Saúde, Educação e Segurança e com muitas críticas contra o presidente Michel Temer. Entre as atrações musicais destacaram-se as artistas DANIELA MERCURY, VALESCA POPOZUDA, PABLO VITAR TERESA CRISTINA E PRETA GIL.



Jane Di Castro, como faz anualmente, abriu o evento cantando o Hino Nacional Brasileiro, acompanhada de políticos simpatizantes e convidados especiais.



Como inovação, um grupo de alegres e bem vestidos atores, desfilando em pernas de pau, deram o tom circense ao desfile. Um dos integrantes, o jovem Elan Barreto, pediu através da imprensa mais amor e respeito com as diferenças: "Essa, mais do que nunca, é a parada da resistência. Precisamos acabar com todas as formas de intolerância", disse.



Apesar do discurso, alguns focos de violência foram registrados e rapidamente desfeitos pela Polícia Militar, que usou spray de pimenta. A maior parte dos casos negativos partia de punguistas de bolsas e carteiras, além dos costumeiros ladrões de celulares. Uma boa parte deles era identificada do alto dos trios elétricos e denunciada imediatamente aos policiais. Não houve registro de problemas de atendimento médico por excesso de bebidas ou uso de drogas.



No alto de um dos trio elétricos,  Pabllo Vittar fez críticas aos 'brigões'. "Queremos respeito meu amor, se a gente quisesse brigar, não estaríamos aqui", disse, para o delírio do público.



De acordo com a arquiteta Luiza Schreier, o evento é fundamental para manter a resistência. "Acho que a sociedade tem evoluído, mas ainda há muito o que melhorar. Temos que evoluir ainda mais", avaliou. Ela disse que o Brasil ainda está muito atrasado se comparado a outros países nas questões ligadas ao movimento LGBTI.



Segundo os organizadores, a parada leva para as ruas pessoas que lutam por direitos iguais, que combatem a intolerância, o preconceito e o ódio, dando voz a quem viveu muito tempo à margem da sociedade.



Este ano, houve incerteza sobre a realização da parada por falta de recursos financeiros para viabilizar trios elétricos e atrações artísticas.



De cadeiras de rodas por causa de um acidente vascular cerebral, Silvina Correa Fernandes, de 87 anos, foi assistir à parada levada pelo filho Osvaldo Araújo, de 52 anos, e seu companheiro André, com quem vive há 26 anos. “Eu sempre venho, eu gosto. Tem que apoiar, né? Meu filho é uma maravilha”, disse Silvina.



Segundo Araújo, sua mãe sempre o apoiou e fica feliz em participar do evento. “A parada é importante para mostrar que todos somos iguais. Não tem diferença. Trabalho, pago meus impostos, tenho direito como qualquer outra pessoa”, contou.



Acompanhada do marido, a psicóloga Mônica Ribeiro, de 46 anos, disse ser importante que a sociedade civil esteja presente na parada. “É importante esse tipo de ocupação, esse tipo de resistência. Apoio qualquer tipo de diversidade, as diferenças. Sou completamente a favor da diversidade, cada um tem direito de amar quem quiser”.



“Historicamente, somos uma resistência. O Brasil não tem uma política pública de fato para a população LGBT. A homofobia é um fato. Praticamente a cada dia morre um homossexual vítima de homofobia no país. Se existimos, de alguma forma, é uma resistência”, disse o presidente do Grupo Arco-Íris, Almir França. A Polícia Militar não divulgou estimativa de público.



Segundo os organizadores, a parada leva para as ruas pessoas que lutam por direitos iguais, que combatem a intolerância, o preconceito e o ódio, dando voz a quem viveu muito tempo à margem da sociedade.



"A parada gay nasceu para curar a homofobia e o preconceito da sociedade. Se você é gay, derrube todas as paredes, quebre o armário e viva sua felicidade e sua liberdade! Ser gay é um direito! Somos livres e iguais", comentou Daniela Mercury.



Durante a apresentação, Preta Gil, como de costume, brincou com os fãs, que foram ao delírio quando chamou Pabllo Vittar para cantar. Ao assumir o microfone, por volta das 16h20, na Avenida Atlântica, entre as ruas Sá Ferreira e Sousa Lima, Preta se declarou para o público: "O meu partido é vocês. Eu vim aqui para cantar", disse, antes de começar o show.



A  cantora Teresa Cristina também brincou com a multidão e instituiu o momento "beijação" da parada. Com um "porém", ela ressaltou que só o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, não poderia entrar na brincadeira: "Beija ele, beija ela, só não beija a boca do Crivella", ironizou Teresa.



A propósito, o prefeito Crivella, chamado por muitos de Crimerda, Crivelha e Crimeleca, foi o maior  alvo de protestos. Umas das faixas do evento dizia: "Bem na sua cara, Crivella". Em outro cartaz havia um "Fora Crivella". Um cartaz criticando o abandono no sistema municipal de Saúde destacava: CURA GAY, a prefeitura não cura nem uma simples gripe.



Entre os gritos políticos do ato, alguns oradores pediram a saída do governador do estado, Luiz Fernando Pezão; do presidente da República, Michel Temer; e o prefeito da cidade, Marcelo Crivella. Outros artistas também fizeram shows durante o evento, como Lorena Simpson, Yann, Sara e Nina, Leila Maria, Cariúcha, Candybloco, DJ Paulo Pringles e Bloco Exagerados.