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sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

CAZUZA, JÁ ETERNIZADO EM BRONZE,ESTÁ DE VOLTA AO SEU BAIXO LEBLON



De Luiz Carlos Lourenço 
Fotos de Daniel Marques


Depois de Tom Jobim, Dorival Caymmi, Drummond, Pixinguinha, Tim Maia, Noel Rosa, Michael Jackson e, mais recentemente, Clarice Lispector, chegou a vez do músico Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, ser homenageado com uma estátua no Rio de Janeiro. A escultura feita de bronze, foi inaugurada ontem na Praça Cazuza, no Leblon e diferente das outras obras, tem  uma pegada irreverente, como ele: “É como se ele estivesse em cima do capô de um carro”, explica a artista Christina Motta, autora da obra, que ainda incluirá uma série de beija-flores sobre a cabeça do artista. A escultura é resultado de inúmeras conversas de Christina com Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que chegou à conclusão de que esta deveria ser a posição.




A obra de Christina Motta foi colocada na mesma praça que leva o nome do cantor brasileiro, morto em 1990 por complicações decorrentes da Aids. A data escolhida para a inauguração, aliás, é a mesma que marca o Dia Mundial de Combate à Aids. O evento começou às 19h e contou com um pocket show no local, tendo como destaque a cantora Tereza Cristina que, na oitava e última canção apresentada, todas de autoria de Cazuza, foi acompanhada pelo cantor, músico e compositor brasileiro, Rogério Flausino, mais conhecido por ser o vocalista da banda Jota Quest . 


 A entrega da estátua ao povo do Rio de Janeiro foi iniciada com uma breve saudação do secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Marcus Belchior, que explicou aos presentes que, por mais de três anos, Lucinha Araujo insistiu para que o prefeito Eduardo Paes executasse a reforma da praça e a colocação da estátua do filho. Lucinha, por sua vez, bastante emocionada, agradeceu a presença de vários amigos, da imprensa em geral e dos fãs de Cazuza, de diferentes faixas etárias. Dois covers do cantor, Pepe Moraes e Cazu Barros, caracterizados com bandanas na cabeça e usando óculos escuros, também participaram da inauguração, que contou com a presença da empresária e produtora musical Paula Lavigne, do compositor carioca, saxofonista e violonista Jorge Israel, da poetisa,  Ana d´ Castro, dos atores Paulo Rocha, Jarbas Fontinelle, Nicolas Siri, da advogada Celia Villas Boas, da atriz e modelo Paula Lavigne, do produtor musical e escritor Paulinho Lima, dos fotógrafos Thereza Eugênio e Marco Rodrigues, da jornalista e radialista Alicinha Silveira, da atriz Fernanda Lima e da socialite Lilibeth Monteiro de Carvalho.



 Durante a apresentação da canção " O tempo não Pára", a cantora Tereza Cristina aproveitou para mostrar aos presentes que Cazuza era visionário, porque sua letra está mais do que atual com os desmandos políticos que estão acontecendo no Brasil; No verso "tua piscina está cheia de ratos, ela cantou "Nosso Congresso está cheio de ratos", sacada que levou o público ao delírio, sendo a artista bastante aplaudida.



ESCULTORA DE RENOME

A fama da escultora Christina Motta já vem de muito tempo, porque todas as pessoas passam pela Orla Bardot, em Búzios, param diante da estátua da atriz francesa Brigitte Bardot, se ajeitam e disparam selfies, sorrindo para as câmeras dos telefones celulares. A temporada que a musa passou em Búzios, em 1964, atraiu olhares do mundo todo para a cidade e mudou completamente a história do lugar. Mas, 35 anos depois, mudou também a vida da artista plástica que recebeu a missão de retratá-la: a moradora de Búzios Christina Motta.


Em 1999, quando criou a estátua de Brigitte, Christina tinha 51 anos, já era uma artista bem-sucedida, mas nada perto do reconhecimento que atingiu com o sucesso que a estátua fez em Búzios.

— Não tenho filhos. Então, minhas obras são como filhos pra mim. E quando se põe uma criança no mundo, nunca se sabe quem ela vai se tornar. A “Brigitte” foi assim para mim. Não imaginava que a estátua ficaria conhecida no mundo todo, como acabou acontecendo — diz Christina.



Antes de criar a escultura de Brigitte, Christina fez outras obras importantes e teve reconhecimento em galerias internacionais, nos 21 anos em que morou em Londres. Uma obra que ela lembra com carinho é a que fez da escritora Anne Frank, vítima do Holocausto. A obra foi exposta e vendida em uma galeria de arte na Holanda.
No entanto, Christina acredita que depois que a escultura de Brigitte foi inaugurada em Búzios, seu trabalho ganhou reconhecimento muito maior;
Apenas na cidade, a artista tem outras 13 obras públicas, incluindo a escultura de três pescadores, também na Orla Bardot, e o busto de um quilombola, na entrada da Praia Rasa.


No Acre, Christina também tem 13 esculturas expostas. A mais marcante é a estátua do ambientalista Chico Mendes. Ela tem ainda obras em locais públicos em Holanda, Canadá, Estados Unidos e São Paulo. Mas sua nova menina dos olhos é a estátua que inaugurou em Ipanema, no Rio, em dezembro do ano passado: a do maestro Tom Jobim.
— Acho que a escultura do Tom tem a chance de se tornar o que a Brigitte já é aqui em Búzios, uma grande atração turística e agora um novo point para os cariocas  turistas será a estátua do Cazuza. . Tenho visto na imprensa notícias sobre o grande número de pessoas que tem parado para ver a obra e tirar fotos ao lado do Tom — diz ela.



Christina assina outras obras espalhadas pelo Rio e outras cidades do país, como a escultura de Tim Maia, na Praça Afonso Pena, na Tijuca e a de Flávia Alessandra, em Arraial do Cabo.
 A escultura de Cazuza ainda terá pássaros feitos pelo arquiteto Helio Peregrino. "Essa obra demorou 11 anos para sair. Vários prefeitos prometeram isso para a Lucinha (mãe de Cazuza)", afirma Christina.


— As praças são como quintais dos cariocas. É onde muitos encontram amigos e vizinhos. Algumas, que estão há tempos sem reformas, passaram a receber um olhar mais atento da prefeitura. Cazuza, um artista que tanto enaltecia o Leblon, merece essa homenagem, que foi um pedido de sua mãe, Lucinha Araújo — diz o secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos, Marcus Belchior.



O projeto, assinado pelo arquiteto Helio Pellegrino, também autor do primeiro desenho da praça, elaborado nos anos 90, ganhou agora um toque especial com a estátua, esculpida num estilo hiper-realista. 

Filha de Javert, nome do personagem principal do romance Les Miserables e de Baby, a pioneira de um curso para mulheres motoristas, Christina Motta "brinca" com argila desde os 13 anos, daí as esculturas em bronze que se tornaram atração turística na orla da Praia da Armação, em Búzios: a da Brigitte Bardot, camisa listrada e sentada na mala e as de três pescadores, em tamanho natural, puxando uma rede à beira do mar.




Paulistana de 56 anos, Christina estudou no tradicional Notre Dame de Sion e ainda jovem decidiu fazer um curso de três meses de inglês, em Londres, de onde só saiu 21 anos depois. Ali entrou numa escola de arte, trabalhou no atelier da escultora sueca Karin Jonzen, expôs diversas vezes na Alwin Gallery, numa travessa da Bond Street e se casou com Manuel Mendes Silva, brasileiro radicado em Londres que trabalhava na Organização Internacional do Café (OIC).

Suas esculturas na época lembravam monges com a cabeça coberta por um manto e muitas delas foram expostas na Hüsstege Gallery, da cidadezinha holandesa chamada s'Hertogenbosch, onde continua expondo anualmente.





Nos anos 80 veio pela primeira vez a Búzios e ficou um final de semana chuvoso hospedada na Casa do Sino, alugada por um amigo. Com a aposentadoria do marido, alugaram a casa de Londres para um americano e vieram passar temporada na casa emprestada pelo pianista e amigo Arnaldo Cohen, na Vila das Aroeiras, em Manguinhos. Chegaram em dezembro de 1991 e nunca mais saíram. 

Também por encomenda da prefeitura de Búzios e como homenagem aos pescadores da antiga aldeia buziana, ela fez os três puxadores de arrastão à beira mar, a 15 metros da areia, sobre pedras e que, à noite, recebe iluminação mágica, um projeto de Nills Ericson. 
São três esculturas em tamanho natural que tiveram por modelos o marinheiro Mauro, que posou para Christina simulando um arrastão com a corda amarrada numa árvore e o topógrafo Eduardo Chamel, de quase dois metros de altura, que serviu de base para que estudasse as proporções das estátuas. 

As obras deram muito trabalho. Começam a ser feitas numa estrutura de madeira e ferro recheadas de papel, quando se faz o primeiro molde em argila. Depois é feito o molde em gesso e se recheia a parte oca de cera (fica como num sanduíche). Em seguida a estátua é coberta com gesso cozido ("luto") e vai ao forno. No final vai para a fundição.