Pesquisar

terça-feira, 5 de julho de 2016

Juntos por um século


A sua chance de chegar aos 100 anos poderia aumentar se você, por exemplo, tivesse nascido no Japão. Afinal, esse país oriental tem a maior média de expectativa de vida do mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma pesquisa do IBGE, em 2007, revelou que nesse ano existiam 11.422 brasileiros com 100 anos ou mais. Então, éramos 183.987.291 habitantes. Se meus precários conhecimentos de matemática não me traíram, isso significa que, por aqui, a nossa possibilidade individual de completar um século de vida é de 0,006%. E gêmeos? Agora, com a utilização das técnicas de reprodução assistida, a incidência de casos de gestações múltiplas aumentou bastante (cerca de 70%), mas, até recentemente, a gravidez natural com possibilidade de gerar gêmeos ficava em torno de 1/90.




Ou seja, uma em cada 90 mulheres grávidas dava à luz gêmeos. Faço essas considerações apenas para enfatizar a alegria provocada por um raro acontecimento que marcará, neste domingo, a família Fay. Netinho e Chiquita são gêmeos e nasceram prematuros de sete meses, na madrugada de uma segunda-feira de lua nova, dia 3 de julho de 1916. As crianças vieram ao mundo com o auxílio da avó, que era parteira, na Rua Madre Ana, no bairro Glória, endereço de seus pais, Mario Leitão Fay, que trabalhava nos Correios, e Isabel, que era uruguaia. Elas foram batizadas com os nomes de Godofredo e Francisca. Foram os primeiros filhos do casal, que depois teve mais quatro. Quando os gêmeos tinham 18 anos, o pai, Mario, faleceu e Godofredo assumiu o encargo de arrimo da família.



Ele trabalhou nos Correios, no lugar do pai, e, aos 22 anos, foi aprovado em concurso do Banco do Brasil, onde fez carreira, até 1974, quando aposentou-se. Foi casado com Lígia Carvalho, por 65 anos. Eles tiveram quatro filhos, 10 netos e 11 bisnetos. Francisca casou-se com César Medina. O matrimônio de 61 anos gerou quatro filhos, sete netos e sete bisnetos. Ela dedicou-se às atividades familiares e levou uma vida muito feliz, pois o casal gostava muito de viajar e o fazia com frequência. Atualmente, ele mora na Vila Assunção, acompanhado de cuidadoras.

Ela vive com uma das filhas, no bairro Teresópolis. Quando os gêmeos nasceram, o presidente do Brasil era Wenceslau Brás, a moeda era o réis e o mundo enfrentava a  I Guerra Mundial (1914/1918). Aqui, o Orfanato Pão dos Pobres começou a funcionar, foi inaugurado o novo prédio da Biblioteca Pública Estadual, na esquina da Rua da Ladeira com a Riachuelo, Porto Alegre recebeu a visita de Olavo Bilac, a Rua do Comércio tornou-se Rua Uruguai, a Praça Municipal passou a ser chamada de Praça Montevidéu e o intendente José Montauri foi reeleito. Quem poderia imaginar, em 1916, que aqueles dois bebês, de pouco mais de dois quilos, seriam, em 2016, o centro das atenções e motivo para o grande almoço familiar que reunirá por volta de 200 parentes num clube da Zona Sul, neste domingo?

Colaborou Gladis Fay

Fonte: Porto Alegre, Ano a Ano 1732/1950, de Sérgio da Costa Franco
Site: Almanaque Gaúcho