ATRAÇÕES PARA ENCANTAR AS CRIANÇAS EM UMA VIAGEM A PARIS
Jornalista conta como a Cidade Luz virou a Cidade Playground para a Érica, sua filha de três anos
Foto: André Mags / Arquivo Pessoal
A vida parecia retomar seu ritmo normal quando entramos no supermercado na Rua Lima e Silva, em Porto Alegre. As mãozinhas mal alcançando a barra para empurrar o carrinho, minha filha estava como em um dia igual a todos os outros, quem sabe um pouco sonolenta, no seu intuito de levar as nossas compras na medida em que sua força e agilidade permitiam.
Até que se passaram alguns segundos, e tudo se transformou quando entramos no primeiro corredor. A Érica, três anos de idade, começou a chorar, e logo aquilo virou um berreiro. Coisa repetitiva para uma menina pequena, mas o motivo da choradeira era incomum. Eu, que nunca imaginava prender uma criança pela memória por causa de uma viagem, arregalei os olhos quando ela gritou, no meio do corredor:
— Eu quero ir pra Pariiiiiiiiis!
E as lágrimas rolavam por aquelas bochechas fofas abaixo. Uma frequentadora do super passou por nós, olhou para a guria em prantos e comentou, sorridente:
— A filha de vocês está com um grande problema, né?
Estava claro como a França, e particularmente Paris, tinha sido tão marcante durante os 20 dias de viagem e como agora éramos os terríveis pais que cerceiam a liberdade infantil de uma menina-mochileira precoce — certamente tida naquele momento pelo pessoal no super como uma garotinha de desejos espalhafatosos. A verdade é que no lugar de pracinhas de chão fofo cheias de brinquedos todos os dias, agora ela enfrentava o tedioso deserto cotidiano.
Estava sendo esse o resultado de uma viagem que carimbou a Cidade Luz com o título de Cidade Playground. Há praças perto de quase tudo que é atração turística, com brinquedos ranqueados conforme a idade da meninada que pode usá-los e com o chão fofinho para eles caírem de cabeça ou com as costelas e a nuca e nada, nada se quebrar. Ao menos não assim, tão fácil.
Bien, emocionado com este texto, você decidiu ir a Paris agora, neste exato momento, com seus quatro filhos pequenos? Beleza. Comece a viagem já. Converse com seus piás sobre o lugar, onde não se fala português, e sim outra língua, cheia de biquinhos, e diga como se fala todo aquele catatau de palavras que os parisienses, especialmente, adoram (e exigem) ouvir: bonjour, si vous plâit, merci, bonsoir, bonne nuit, escuse-moi.
Não espere finèsse de todos os pequenos franceses
Pode ser divertido brincar com os filhos ensinando as palavras mágicas e de quebra escapar de reprimendas em Paris — é, os parisienses vão cobrar isso. Dizem que o maior problema de Paris são os parisienses, e às vezes é isso mesmo. Eles exigem muita educação dos visitantes, mas o engraçado é que o inverso é capaz de não ser recíproco.
As crianças parisienses, por exemplo. Estando em meio às enfants francesas em suas brincadeiras, perceba que elas podem ser bem educadas, o que é até bonito de ver, mas também há os pequenos toscos. Portanto, não espere um show de finèsse de 100% dos baixinhos gauleses para não ver a sua certeza ruir como um castelo feito de livros de Pamela Druckerman.
Igual ao que se vê em muitos parquinhos no Brasil, as crianças podem ser diabolicamente deseducadas e passar à frente do seu filho quando for a vez dele de descer no escorregador, empurrá-lo para passar à frente no balanço ou somente passar à frente sem motivo aparente.
No mais, a cidade é sempre boa para a garotada. Muitos restaurantes têm menus infantis, as sorveterias são viciantes, as lojas de brinquedos são legais, com itens de qualidade que podem ser mais baratos do que os similares no Brasil, há uma praga de carrosséis que seu filhinho/filhinha vai querer usufruir cada vez que localizar um exemplar e existe aquele ícone, aquele brucutu de ferro com o poder do carisma, a Torre Eiffel. Fale sobre a torre antes da viagem, tire uma foto dela com seus filhos quando chegar lá. Estará garantida uma das grandes lembranças da viagem.
Onde levar a garotada
Parc du Luxembourg
Um dos parques preferidos dos parisienses, tem o carrossel mais antigo da cidade, de 1879, em que as crianças, sentadas nos cavalinhos de madeira e com um bastão em mãos, têm de acertar os anéis que o funcionário segura. É diversão à moda antiga, como faziam os mais pueris, séculos atrás. Ali perto fica um teatro de fantoches (seu filho pequeno vai adorar), e é possível fazer um passeio em pôneis.
Já mais para o meio do parque está o laguinho em que a maior concorrência é pelos barquinhos de madeira com bandeiras de vários países, inclusive a do Brasil. De posse de um bastão, seu filho vai curtir empurrar a pequena embarcação até o centro do laguinho — por 3 euros. E de lá ele chegará até a outra margem. E depois, ao centro. E depois, à margem. E depois, ao centro. E depois, à margem. Ainda bem que a "navegação" é por tempo limitado, 30 minutos.
Jardin des Tuileries
O mais legal por aqui é o pula-pula coletivo. Costuma ter fila, mas a cama elástica vai entreter o seu pequeno por longos minutos quando chegar a vez dele. De resto, parquinhos em ótimo estado e limpos, o que para nós, brasileiros, pode ser uma grande novidade.
O jardim fica no meio de três ótimos museus, Louvre, D'Orsay e L'Orangerie, e pode servir de ponto de recreação entre idas e vindas desses três ou de revezamento dos pais de crianças pouco pacientes para ver quadros e esculturas.
Parc Astérix
Os pequenos podem nem entender ainda as histórias dos irredutíveis gauleses, mas mesmo assim as chances de que eles gostem mais desse parque do que da Disney são grandes. Muito porque há uma atração magnetizadora: golfinhos amestrados. Nada a ver com o Astérix, claro. Mas atividades relacionadas aos personagem de Goscinny e Uderzo também cativam.
É o caso (aí para os grandinhos) das várias montanhas-russas, mais espetacularmente falando, a Oziris, que vira de cabeça para baixo e atravessa uma construção "egípcia" aparentemente raspando o coco da galera no teto. Também há uma arena com um teatro muito engraçado sobre o alistamento de legionários romanos para lutarem contra os gauleses. Em francês, né, mas completamente inteligível.
O parque fica em Plailly, 30 quilômetros ao norte de Paris. Para chegar, é preciso ir até o Aeroporto Charles de Gaulle. Tome o RER B3 na Gare du Nord, plataforma 43, e desça na parada Aéroport Charles De Gaulle Terminal 1 e Terminal 3. Na estação haverá um guichê com o letreiro "Parcs de Loisirs". É ali que você compra o ingresso (se não tiver comprado antes em parcasterix.fr) — por 46 euros (a partir de 12 anos), 38 euros (três a 11 anos; menos que três é gratuito) ou passes familiares de 42 euros — e a passagem de ônibus até o parque, 7,50 euros para adultos e 6 euros para crianças até 12 anos.
Disneyland Paris
Montanhas-russas, desfile de personagens, Walt Disney Studios e muitas atrações parecidas com as da Disneylândia americana — mas a francesa é realmente mais limitada. Ainda assim, se você quiser ver tudo, é bom pensar em comprar uma entrada para pelo menos dois dias, ainda mais se os planos são de conhecer o parque e o Walt Disney Studios.
Dá para se hospedar em hotéis no próprio parque (não muito baratos, obviamente), com a vantagem de ter duas horas (8h-10h) livres da concorrência de visitantes que não estão hospedados no local (galera que entra em peso às 10h).
Na verdade, a ex-Eurodisney (hoje chamada Disneyland Paris) não fica em Paris, e sim na pequena vila de Marne-la-Vallée, a 32 quilômetros da capital francesa. O transporte desde Paris pode ser feito por ônibus expresso direto de quatro pontos da cidade, Gare du Nord, Opéra, Madeleine e Châtelet, valor a partir de 45 euros. Mais barato é pegar o metrô na estação parisiense de Nation, pagando cerca de quatro vezes menos. Lá, embarque no RER A e, em 35 minutos, desça em Marne-la-Vallée/Parcs Disneyland. O parque fica a dois minutos de caminhada.
A preferência por atrações depende de cada um, mas dá para arriscar alguns palpites interessantes, como a reprodução em tamanho real e visitável do submarino Nautilus (cujo ponto alto é o ataque de um polvo gigante à embarcação), o passeio pela casa mal-assombrada e o trenzinho que imita um voo do Peter Pan. E não se engane: também há atrações sem graça, tipo passeios em trenzinhos que cruzam por bonecos abanando ou mexendo a cabeça para você, e nada além disso. Mas seu filho provavelmente vai adorar igual.
Aquário de Paris
Não é novidade na Europa, várias cidades têm esses imensos aquários, mas, já que você está em Paris, por que não levar a garotada para ver uns peixes? São mais de 10 mil espécimes em 43 tanques, e o grande destaque, como em todos os demais aquários do mundo, são os tubarões. Em um tanque envidraçado especial, eles passeiam sobre a sua cabeça, a poucos metros de distância.
Pode ser ainda mais legal permitir que as suas crianças interajam com as carpas de um tanque aberto. Elas adoram carinhos na cabeça. Shows e workshops para os menores também são realizados no local, confira a programação no site cineaqua.com. Como fica bem perto da Torre Eiffel, o Aquário de Paris pode ser integrado ao mesmo passeio na região (ou servir de entretenimento às crianças enquanto algum membro da família guarda lugar na fila para subir na torre).
Entrada: 20,50 euros (adultos), 16 euros (13 a 17 anos), 13 euros (três a 12 anos; gratuito abaixo de três anos), e descontos para grupos a partir de sete pessoas.
Zoológico
Valeria o mesmo comentário do aquário: toda grande cidade europeia tem o seu. Paris tem dois, um deles no afastado Bois de Vincennes, que vale se você for conhecer a região. Apresenta bichos originários da Europa, da Patagônia, da África, da Amazônia e de Madagáscar, incluindo lince, puma, leão, rinoceronte branco, jaguar e mais um montão. Adultos pagam 22 euros; pessoas de 12 a 25 anos, 16,50 euros; e crianças de três a 11 anos, 14 euros (gratuito para crianças com menos de três anos).
O outro zoo fica no centro da cidade, dentro do aprazível Jardin des Plantes (jardim botânico), e seu nome oficial é Ménagerie. É considerado um dos zoos mais antigos do mundo, aberto em 1794. O diferencial que faz valer a visita é justamente essa antiguidade, que você repara na arquitetura do lugar. Mas isso é para você. Aos seus filhos, 1,8 mil animais os divertirão em um passeio não muito cansativo, já que é bem menor que o zoo do Bois de Vincennes e bem tranquilo, adaptável a um roteiro no coração de Paris que pode incluir a Sorbonne, o Pantheon, as Arenas da Lutécia, o Museu de História Natural, a Grande Mesquita e o Instituto do Mundo Árabe.
Entrada: 13 euros (adultos) e 9 euros (quatro a 16 anos). Qualquer ranço a mais, tem um parquinho cheio de brinquedos legais ao lado da Ménagerie.
Praças e parques
Não faltam praças e parques em Paris, todas com o indefectível piso macio e brinquedos com orientações sobre a melhor idade para utilizá-los. É bom para entreter os pequenos no caso de a atração turística da região ser mais prazerosa para adultos. Confira atrações que contam com parquinhos nas proximidades:
Arenas da Lutécia — A Square Capitain (dentro das Arènes de Lutèce, entre Rue des Arènes, Rue Linné e Rue Monge) conta com atrativos infantis temporários, além do parquinho. No segundo semestre de 2014, havia um jardim com um colorido caminho florido e estruturas que geram ilusões de óptica.
Região da Sorbonne e escolas — Square Paul-Langevin (Rue des Écoles com Rue Monge) conta com banheiro público gratuito e brinquedos legais.
Les Halles — A região está em reformas, mas o parquinho, que tem até ponte e trenzinho, não foi atingido. Fica na Rue Berger.
Centro Georges Pompidou — Em frente ao museu fica a Place Georges Pompidou, onde sempre aparece algo interessante para as crianças, seja um palhaço, um mágico ou um cara fazendo bolhas de sabão gigantes. Ao lado, fica a Place Igor Stravinsky, com sua fonte e seu laguinho recheado de esculturas coloridas em formatos estranhos para você apontar para os babies.
Parc de la Villette — Local mais afastado do centro parisiense, conta com pracinhas e até um miniparque de diversões do outro lado do Canal de l'Ourcq. O parque abriga La Cité des Enfants, onde seu filho de dois a 12 anos pode enlouquecer com experimentos de som, luz e tecnologia, entre muitos outros. Confira a lojinha no térreo da Cité de la Science e volte à infância com seus pequenos em meio a joguinhos e brinquedos que você nunca imaginou que existiam. Lembre-se do que a região é meio barra-pesada à noite ou muito cedo pela manhã.
Montmartre e Pigalle — De noite, Pigalle se transforma no bairro do sexo pago. Mas, durante o dia, é bem receptivo às crianças, e ainda mais o seu vizinho Montmartre. Embarque com suas crias no trenzinho (chamado Petit Train de Montmarte) que faz um passeio (por 6,50 euros) pelos dois bairros e conheça boa parte de suas melhores paisagens — a saída é ao lado da Sacré-Coeur. Em solo, a vista da cidade a partir dessa igreja é uma boa pedida, assim como observar os pintores em seu métier na Place du Tertre.
Jardins do Trocadéro — De cara com a Torre Eiffel, pode ser uma boa parada em momento de inquietação de seu filho. Se ele for menorzinho, pode curtir o carrossel que fica bem em frente à torre.