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domingo, 27 de setembro de 2015

RUTH DE SOUZA É ACLAMADA COM APLAUSOS
AO CHEGAR PARA O LANÇAMENTO DE SEU LIVRO



De Luiz Carlos Lourenço
Fotos de Daniel Marques

A emoção deu o tom durante o lançamento do livro  da pioneira e veterana atriz  RUTH DE SOUZA, de 94 anos, que foi delirantemente aplaudida ao chegar para conferir o início dos autógrafos de "Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza", de Julio Claudio da Silva, que aconteceu na Livraria Cultura – Cine Vitória, no Centro do Rio de Janeiro, na última sexta-feira . 





A chegada da artista à livraria foi um dos momentos mais marcantes da noite. Ruth de Souza foi calorosamente aplaudida pelos presentes, entre artistas, personalidades e representantes do movimento negro. Na sua chegada, uma das funcionárias da livraria, Cynthia Novaes, que além de vendedora de livros é cantora e estudante de filosofia, desabafou "nunca vi esta livraria reunindo numa noite tantos artistas ilustres, o que enche meu coração de orgulho. Também vou comprar este livro, porque Ruth de Souza é um ícone da minha raça e da arte brasileira".



Vaidosa, usando um vestido um longo estampado nas cores laranja e vermelho, brincos pingentes e colar dourado, cabelo preso em coque no alto da cabeça, unhas bem cuidadas, logo que acomodou-se ao lado do autor do livro junto à imensa fila de admiradores, Ruth revelou estar surpresa e comovida com a homenagem de colegas de profissão e admiradores de seu trabalho.  “Você é a nossa querida”, disse outra grande estrela negra, a atriz Léa Garcia, segurando com carinho as mãos de Ruth. Todos queriam uma foto ao lado da homenageada, que esbanjou simpatia e sorrisos e não conseguia conter as lágrimas. “Eu estou muito comovida. Não esperava tudo isso. Não imaginava que era tão querida”, disse Ruth.



Entre as dezenas de notáveis presentes ao lançamento destacavam-se os atores Milton Gonçalves, Fernando Reski, Maria Ceiça, Lu Gondim, Maria Salvador, o Presidente do SATED/RJ (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado do RJ) Jorge Coutinho, a Sub Secretaria de Inclusão Produtiva da Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio, Jurema Batista, o cineasta Leonardo Medeiros, o cantor Almir Saint Clair, a produtora e assessora de imprensa Ayala Rossana, o ator e poeta Gualdino Calixto, a cantora Paula Goddarth, a empresária Ecy Airoldi, proprietária da casa de espetáculos da Lapa " Sublime Relicário", a advogada Ivonete Ivo Oliveira, o fotógrafo Luiz Alberto, o ator Lino Correa e a produtora Janete Vieira de Sousa, da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, criadora da agenda e almanaque "Vitoriosos", dos quais Ruth de Souza faz parte.



No livro "Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza", publicado pela UEA Edições, o autor Julio Cláudio, professor adjunto da Universidade do Estado do Amazonas, mergulhou na trajetória profissional da atriz, buscando analisar a construção da definição de raça na sociedade brasileira. “O livro enfoca esse teatro que surgiu para denunciar o racismo e abrir espaço para o artista negro. E Ruth de Souza, desde sua participação no Teatro Experimental do Negro, na década de 40, tem importância ímpar nessa história”, conta Julio. 
No lançamento, o escritor autografou especialmente um livro para o diretor presidente da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto, encaminhado através do assessor de imprensa da LBV, jornalista Luiz Carlos Lourenço.






PIONEIRA

No lançamento literário, o autor Júlio Claudio estava acompanhado da filha Sofia e do sobrinho Cássio. As crianças também abraçaram com muito carinho a atriz carioca Ruth de Souza, que foi a primeira atriz a se apresentar no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com o espetáculo " O Imperador Jones", em 1945. Depois de ganhar uma bolsa de estudos e passar um ano estudando e se aprimorando  nos Estados Unidos, não parou mais: foram mais de 40 novelas, 33 filmes e dezenas de peças. Foi a primeira protagonista negra da TV brasileira, em A Cabana do Pai Tomás (1969). Também foi a primeira brasileira a concorrer ao Leão de Ouro, no Festival de Veneza, por sua atuação no filme Sinhá Moça (1953).




Com dificuldades de andar por problemas de circulação, Ruth de Souza não perdeu seu  porte de rainha. E continua fazendo parte da realeza da TV brasileira mostrando que é altiva, simpática, sincera ao extremo, sem temer o peso da idade. Nunca se casou nem teve filhos. Mora sozinha, há mais de duas décadas, num apartamento no Flamengo, Zona Sul carioca, e garante que nunca se sente só: “Tenho meus livros, muitos filmes, meus sobrinhos, estou sempre entretida”. A única reclamação é o fato de não atuar há algum tempo na TV. O AVC que a atriz teve há dez anos deixou sequelas: dores na perna e uma certa dificuldade de permanecer em pé por muito tempo. Ela faz hidroterapia e acompanhamento médico. Contratada da Rede Globo há mais de 40 anos, Ruth só queria uma coisa da vida: voltar a atuar na TV. Chegou a ser convidada para Suburbia, mas não pôde aceitar, na época. Recentemente fez uma participação no filme Primavera, de Carlos Porto, em fase de finalização. Mas confessou a este jornalista, baixinho, sua maior vontade:  as luzes dos estúdios me fazem falta para iluminar ainda mais a vida. Este foi um comovido desabafo  dessa pioneira e guerreira artista brasileira, orgulho do nosso teatro.